sexta-feira, 30 de maio de 2014

E após quatro anos, fez-se a animação



A história nos conta que Alice, ao adentrar na toca do coelho, fica assustada e ao mesmo tempo encantada com o maravilhoso mundo novo que se apresenta diante de seus olhos. Essa mistura de sentimentos não é nada incomum, uma vez que a novidade gera múltiplas possibilidades de sensações. Por consequência, o olhar fica mais crítico em relação ao que o cerca, à medida que, lá no interior, cresce uma vontade de desbravamento, de descoberta. Uma vontade de ir além. 


Atrevo-me a dizer que, há exatamente três anos, pude conhecer o meu País das Maravilhas – Fragmento da postagem do terceiro aniversário do Menino das Letras, há um ano. 

A arte existe porque a vida não basta”, foi o que falou o poeta brasileiro Ferreira Gullar, quando questionado a respeito de suas atividades poéticas. Do outro lado do Atlântico, o filósofo alemão Nietzsche disse certa vez que a arte deve embelezar a vida e, por conseguinte, ela existe para que a cruel realidade não nos destrua. De modo curioso, embora sejam de culturas distintas, ambos conceituaram muito bem algo que salva (e continua salvando) nossas vidas. 

A habilidade de parar para apreciar um objeto artístico e cultural, seja sua essência complexa ou simplória, reacionária ou livre de qualquer barreira, é uma maneira de escapar das misérias que afligem a sociedade e, inevitavelmente, nosso cotidiano. Há quatro anos, quando criei o Menino das Letras, não imaginei que o meu produto fosse chegar tão longe, e tampouco a este nível. 

Ainda é um pouco surreal, sabia? Olhando para trás e comparando com hoje, os fatos falam por si. O que antes era aparentemente o passatempo de um estudante do curso de Letras tornou-se algo sério; algo feito por um profissional de Letras. Os leitores foram acompanhando essa mudança e pelo visto o encantamento pelo mundo da arte só fez aumentar. 

O Menino das Letras provou que as pessoas sentem carência por arte. Com os temas cinema, literatura, músicas, e no último ano o acréscimo de quadrinhos, surpreendo-me com a ideia de que pessoas acessam a página mais de uma vez por semana. Indivíduos que veem na arte um refúgio, a possibilidade de que ainda há esperança para a vida ser menos atroz e mais bonita. 

E assim como os leitores, eu me encantei com o encantamento deles, e cá estamos para comemorar o quarto ano do blog. E pela quarta vez consecutiva, o que me resta é agradecer pela paciência e boa vontade de cada um que reserva um tempo do seu dia para ler as postagens ou visitar a página no Facebook. É graças a você e à sua busca por cultura que hoje o blog possui mais de 52 mil visualizações e quase 200 curtidas no Facebook. 

No decorrer de 185 postagens, arrisquei-me pelos caminhos linguísticos textuais no intuito de passar informações relevantes sobre diversas obras. Ao que parece, isso agrada algumas pessoas. Continuarei tentando, na medida em que for possível, compartilhar e propagar conteúdos artísticos, pois, assim como Gullar e Nietzsche, creio que a arte desempenha uma função crucial em nossas vidas. 

Agradeço aos leitores espalhados pelo Brasil afora e também aos leitores de Portugal, Estados Unidos, Rússia, Alemanha, Malásia, Ucrânia, Canadá, Índia, China, e outros que por ventura eu tenha esquecido de mencionar. E não posso deixar de agradecer a você – sim, você mesmo – que está comigo neste momento. Muito obrigado. 

Aproveite a festa! Ela também é sua.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Godzilla


A natureza tem uma lei: o poder de restabelecer o equilíbrio”.

A versão de 1998 de Godzilla, primeira produzida nos Estados Unidos, trouxe algumas diferenças com relação ao pioneiro filme de 1954. No original, o ataque do monstro acontecia no ocidente, enquanto no remake ocorria na cidade de Nova York. Além disso, na versão americana, o gigante se reproduzia de maneira assexuada e seus filhotes, em vez de mutações, pareciam ter saído diretamente de alguma jaula do Jurassic Park. 

Apesar dessas divergências, ambos se assemelham por se tratarem de produções com teor catastrófico. E como a tendência é que a computação gráfica evolua cada vez mais, o remake de 2014 não poderia deixar a desejar e traz consigo balbúrdia e destruições em proporções colossais. 

Dessa forma, Godzilla chega não apenas para homenagear o clássico de 1954; é também um verdadeiro espetáculo visual, o que já fica evidente desde o prólogo. Em 1999, uma usina é destruída no Japão devido a um acidente repleto de mistério. Passado quinze anos, o cientista Joe Brody (Bryan Cranston) ainda tenta entender por qual razão a usina sucumbiu e, consequentemente, aceitar de uma vez por todas a morte de sua esposa.


Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson), filho do cientista e protagonista da película, cresceu tendo que escutar as teorias paranoicas do pai e descobre, do pior modo possível, que elas estavam certas: criaturas que habitam as profundezas do oceano, que vivem na Terra desde o período jurássico, subiram à superfície para se alimentarem da radiação de tecnologias modernas. 

E é daí que vem o monstro que dá título ao filme. Godzilla é enorme (gordinho, por sinal) e sua presença se faz extremamente imponente quando ele libera o seu rugido, de uma ressonância tão titânica e assombrosa, que é capaz de eriçar todos os cabelos do corpo. Porém, talvez o mais interessante entre toda a estética espantosa do réptil seja o fato de vê-lo em uma posição heroica.


Esse é o primeiro longa de grande orçamento que o diretor Gareth Edwards comanda e já fica notável sua habilidade em não desperdiçar tempo com detalhes excessivos. Pois, mesmo sendo um filme-catástrofe, os efeitos especiais são usados sem a preocupação de encher os olhos do espectador exageradamente igual fizeram outros filmes do gênero, como 2012 e O Dia Depois de Amanhã

Mas, ainda assim, caiu nos mesmos clichês clássicos de tais produções. A mania de colocar o herói em diversos perigos e sempre fazê-lo escapar das situações mais inusitadas parece ser um elemento obrigatório a se incluir no pacote dessas narrativas. Embora, por incrível que pareça, há casos em que essa fórmula continua funcionando.


Considerado um dos filhos da Era Atômica, e uma das personificações das bombas lançadas na Segunda Guerra, citações a certos eventos históricos e armamentos bélicos não poderiam faltar neste Godzilla. Ele pode não ser rápido quanto os monstros de Círculo de Fogo ou tão brutal como os robôs de Transformers, mas a destruição que causa em suas batalhas é deveras semelhante. E, diferente da versão de 1998, parece que agora o gigante dos mares recebeu sua merecida homenagem e sua popularidade o fará sair das profundezas. Um viva ao Rei dos Monstros!

"A arrogância do homem o fez acreditar que tem a natureza sob controle... E não o contrário".

Trailer:


sexta-feira, 16 de maio de 2014

Piteco - Ingá


A beleza é o melhor disfarce da morte”.

Para os desinformados, a Pedra do Ingá fica localizada na região agreste da Paraíba e contém, por toda sua extensão de 24 metros, inscrições e símbolos rupestres. Alguns arqueólogos acreditam que tais desenhos foram feitos entre 2 mil a 5 mil anos atrás por uma finada civilização, e a pedra em si foi tombada em 1944, sendo seu mistério igualmente comparado com a Stonehenge. 

Talvez esse dado histórico tenha servido de estopim para o artista paraibano Shiko traçar a base do enredo da graphic novel Piteco – Ingá. O quadrinho, precedido pelo belíssimo Turma da Mônica – Laços e o hilário Chico Bento – Pavor Espaciar, encerra o primeiro ciclo de publicações do projeto Graphic MSP, cuja intenção é utilizar os personagens clássicos de Mauricio de Sousa sob novas perspectivas.


Felizmente, assim como ocorreu em Laços, as aventuras vividas por Piteco em Ingá, aqui com o mérito de acontecerem na região nordeste do país, ajudaram a reacender a chama da infância. Na trama, o povo de Lem precisa encontrar outro local para morar, visto que o rio que os abastece está na iminência de secar. Entretanto, Piteco não pode acompanhar a sua tribo porque Thuga, sua quase-namorada, foi sequestrada pelos homens-tigre. 

Com a ajuda do imprevisível amigo Beleléu e da guerreira Ogra, Piteco parte em uma jornada no intuito de resgatar Thuga. Por se tratar de um cenário pré-histórico, perigos não poderiam faltar na perambulação desses heróis, e há espaço para confrontar monstros, passear em dinossauros e até encontrar as versões jurássicas do Curupira e do Boitatá. 


O trabalho de Shiko é indiscutivelmente magnífico. Além de ser responsável pelo roteiro do quadrinho, o paraibano também cuidou de todo o desenho, o que reflete os anos de prática exercidos na esfera das artes plásticas e também no grafite. E, pelas figuras terem sido pintadas em aquarela, as cores vivas e intensas ajudam o leitor a adentrar com mais veracidade na história, desde as cenas áridas até às florestas verdejantes. 

A proposta de releitura certamente é voltada para um público mais adulto, uma vez que Shiko não poupa restrições nas lutas (Sim, temos sangue aqui) e nos traços minuciosos dos personagens. Com Piteco – Ingá, Shiko acrescenta aventura, humor, realismo e romance ao universo de Mauricio de Sousa e ainda consegue, quiçá propositadamente, lançar mais mistérios sobre a Pedra do Ingá, tornando-a mais lúdica e, sobretudo, divertida. 

O destino também é um rio”.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

 


Gosto de pensar que o Homem-Aranha traz esperança para as pessoas”.

Em 2012, O Espetacular Homem-Aranha estreou com uma tremenda falta de sorte. Além do reboot trazer consigo a lembrança da trilogia clássica dirigida por Sam Raimi, ainda teve que sofrer com problemas em sua estrutura; desde o roteiro, passando pelos efeitos visuais e culminando na direção inexperiente. E o adjetivo “espetacular”, que é completamente contraditório ao produto final, perdeu o encanto. 

A superação, felizmente, é uma fascinante característica do cinema e O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro cumpre com o seu papel como uma sequência: é, de longe, muito melhor que o seu antecessor. Peter Parker (Andrew Garfield) concluiu o segundo grau e, ao lado da sua namorada Gwen Stacy (Emma Stone), terá que começar a enfrentar as mazelas da vida adulta, com o acréscimo de combater o crime de Nova York.


A cidade permanece dividida quando o assunto é o Homem-Aranha. Para alguns, uma aberração delinquente; para outros, um verdadeiro herói. Há também quem questione, como Harry Osborn (Dane DeHaan), se Nova York de fato precisa de um vigilante. A idolatria pelo Cabeça de Teia fica por conta do personagem Max (Jamie Fox), um solitário e carente funcionário da Oscorp, que vê no aracnídeo um amigo que nunca teve. 

Após um acidente de trabalho, Max adquire poder elétrico por todo o seu corpo ao passo em que consegue sugar energia de qualquer coisa que conduza eletricidade. Enquanto isso, a sombra do misterioso passado dos pais de Peter retorna e ele é compelido a descobrir qual a relação de sua família com uma empresa que financia projetos de natureza duvidosa. 


O amadurecimento da franquia é perceptível em diversos níveis. Desta vez a direção de Marc Weeb (de 500 Dias com Ela) está mais segura e confiante, algo que entra em sintonia com a atuação dos protagonistas, pois Garfield e Stone estão demasiadamente confortáveis em suas performances. Aqui é possível enxergar com mais naturalidade o carisma, simpatia e todo o lado irônico de Peter Parker sob a vestimenta aracnídea, características que fizeram do Homem-Aranha um herói tão icônico. 

Entretanto, isso não faz de O Espetacular Homem-Aranha 2 um filme excepcional. Ele ainda carrega a maldição do seu predecessor: as falhas do roteiro. A função e o desenvolvimento de alguns personagens – Tia May (Sally Field), por exemplo – permanecem mornos. Infelizmente, isso se reflete inclusive no vilão Electro, que não representa uma ameaça tão significativa e devastadora a ponto de merecer ter o nome citado no título do longa.


Em um quadro geral, esses detalhes enfraquecem A Ameaça de Electro porque estamos falando de uma franquia que será composta por quatro filmes. A invisibilidade de um fio condutor, de um arco contínuo, causa no espectador a incerteza do que esperar adiante (Sim, mesmo que o Sexteto Sinistro esteja em planejamento). 

Apesar dos pesares, O Espetacular Homem-Aranha 2 trouxe ótimas cenas de ação, uma dinâmica admirável e efeitos visuais fabulosos, embora seja preenchido por conteúdos superficiais e rasos. Continua não sendo espetacular, mas pelo menos agora o caminho parece mais claro e o objetivo se demonstra não mais tão distante. 

Trailer: