sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Boyhood - Da Infância à Juventude



Sabe quando dizem para aproveitar o momento? Não sei, mas acho que é ao contrário. Como se o momento nos aproveitasse”.

Nos minutos finais de Boyhood – Da Infância à Juventude, dois personagens chegam à conclusão catártica de que os momentos se aproveitam de nós. Essa sensação perpassa todo o filme de Richard Linklater (Escola do Rock), uma vez que a narrativa é estruturada por tais eventos que marcam o caráter de uma pessoa e que mudam a trajetória de sua vida. 

A ideia é simples e pura: se considerarmos o fato de que somos criaturas históricas, situadas historicamente na sociedade, por que não transmitir essa emoção da maneira mais real possível por meio da arte? Quebrando as barreiras da dúvida e da paixão pela profissão, Linklater elaborou seu último – e mais ousado – projeto cinematográfico; rodar um longa que acompanhe a transição de alguém da infância até o instante de ingressar na faculdade. Neste caso, uma produção que demorou doze anos literais para ficar pronta.


A premissa do roteiro é básica, sem intenções de grandezas. O enredo tem início com Mason (Ellar Coltrane) no ensino fundamental. Logo fica claro qual é o retrato de sua condição: segundo filho de um casal divorciado, subordinado a acompanhar as mudanças pelas quais sua mãe passa. No processo dessa jornada, o garoto vai descobrindo as sutilezas e mazelas que a vida pode proporcionar, desde os interesses por videogame e outros elementos da cultura pop, ao uso do álcool e a incerteza de qual carreira profissional pretenderá seguir. 

Sim, sob um olhar resumido, é um filme que não tem muito a oferecer a quem assiste. Todavia, à medida que a exibição progride, as identificações começam a surgir, pois trata-se de uma obra de documentação histórica, algo que remete um pouco a Forrest Gump. As vicissitudes dos personagens são perceptíveis, pois a fisionomia dos atores também se modifica.


Afinal, o elenco participou das gravações entre 2002 e 2013, brincadeira similar a que Linklater utilizou na sua famosa trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-noite, de modo que fortalece o argumento do projeto e traz o vago sentimento de que, à medida que o tempo passa, a vida que se desenrola ali é de alguém conhecido. 

Durante os doze anos de filmagem, o roteiro passou por diversas alterações para condizer com determinados eventos. Portanto, músicas marcantes e temas como 11 de setembro, eleições presidenciais, Star Wars, Harry Potter, Batman e outros não poderiam passar despercebidos.


Com referências que enaltecem a obra e também pela adoção da veracidade, Boyhood ganha pontos por uma simplicidade capaz de gerar profundas reflexões, igual àquela feita nos minutos finais. Certamente é um filme que não serviu apenas para marcar a carreira de Richard Linklater e tampouco para entreter o espectador por quase 3 horas, mas, sobretudo, para dizer que, se a vida é história, cada vida contém um filme em si. E o resultado não pode ser menos que espetacular.

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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Jumanji



O homem da floresta escura, caça em você a criança pura”.

Uma das vantagens de jogar RPG, como a própria tradução anuncia, é a oportunidade que os jogadores têm de interpretar seus personagens, aguçando suas capacidades de imaginação. Embora vários dos participantes desse estilo de jogo levem as regras muito a sério, eles estão guarnecidos com o pretexto de que tudo gira em torno de uma ficção. 

O problema de Jumanji é que o jogador não tem tal opção e cada lance de dados pode gerar resultados decisivos, inusitados e fatais; toda jogada significa que algo sairá do jogo, colocando os participantes em perigo real. No ano de 1969, Alan Parrish e sua amiga Sarah Whittle descobrem isso da pior maneira e o pobre garoto é lançado para dentro de um misterioso tabuleiro que encontrou nos entulhos de uma construção, fadado a ali ficar até que surja outro participante que o salve.


Vinte e seis anos depois, os irmãos Judy (Kirsten Dunst) e Peter vão morar na velha mansão da família Parrish. Ambos acabam encontrando o jogo de nome “Jumanji” e o iniciam, libertando o já adulto Alan (Robin Williams). O infortúnio é que os irmãos começaram a mesma partida que Alan não conseguiu terminar em outrora, e para que todas as coisas que saíram do jogo voltem ao seu local de origem e o equilíbrio seja restaurado, o jogo tem que ser encerrado. 

O filme, baseado na obra de Chris Van Allsburg, foi lançado em 1995 e é considerado um clássico pelo teor aventureiro e os sofisticados efeitos visuais que, para a época, foram somente possíveis graças aos avanços alcançados em Jurassic Park. O clima juvenil e cômico foi bem aproveitado pelo diretor Joe Johnston (Capitão América: O Primeiro Vingador), o qual possui uma aclamada experiência na área pelo também nostálgico Querida, Encolhi as Crianças.


Mas não apenas de aventura vive Jumanji. A temática família, coragem e amizade permeiam o filme, alicerces das variadas emoções que os personagens demonstram nas situações de perigo. Mais um ingrediente a ser acrescentado no sucesso que, ainda na década de 1990, rendeu um desenho animado retratando o mundo que existe dentro do jogo.


Curiosamente, outro longa-metragem chamado Zathura é considerado uma extensão de Jumanji; a diferença é que seu cenário é o espaço sideral. As comparações são inevitáveis, pois a aventura espacial é inspirada em outro livro do mesmo autor. Ainda assim, é preciso de algo maior para dissipar da memória a fantástica história com a qual Jumanji presenteia o espectador e, além disso, é ótimo rever Robin Williams em seus anos dourados. Para os insaciáveis jogadores de imaginação fértil, Jumanji sempre será uma boa inspiração; para o saudoso espectador, serve como o manual de uma boa diversão e a nostálgica sensação de que por mais que a partida termine, sempre haverá alguém disposto a jogar outra vez.

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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Maze Runner - Correr ou Morrer



Você é diferente. Você é curioso”. 

A distopia, atualmente, parece ser a bola da vez no âmbito das ficções-científicas. E como se a coincidência não bastasse, a maioria dos filmes com essa temática são inspirados em obras literárias, sendo Jogos Vorazes o líder da lista. Um futuro pós-apocalíptico, no qual só é possível ver o rastro de luz sob o olhar juvenil, não é apenas um prato cheio para a garotada como também é capaz de despertar a atenção do público mais adulto. 

Maze Runner – Correr ou Morrer é mais um produto de tal filosofia. Baseado na obra de James Dashner, o longa mal tem início e já mostra a que veio: mexer com o emocional do espectador. A primeira cena é a responsável pela apresentação do protagonista Thomas (Dylan O’Brien), que está preso em um elevador e sem memória de quem é ou o que fez antes de entrar ali. 

O fim da subida o leva até à Clareira, local onde, uma vez por mês, por razões desconhecidas, um novo menino é enviado para conviver com o grupo de rapazes que já moram ali há anos. O lugar é cercado pelas enormes paredes de um labirinto que se abre e fecha, respectivamente, no início e final de cada dia. Se alguém ficar preso no labirinto tem poucas chances de sobreviver, pois no interior da construção habitam criaturas medonhas e mortíferas.


Cada pessoa na Clareira tem sua função, e entre eles há os chamados corredores. O objetivo deles é percorrer o labirinto durante todo o dia no intuito de mapeá-lo e encontrar uma saída. Contudo, Thomas é curioso, e não demora que ele questione quem os colocou ali e quem controla o labirinto. Com isso, regras começam a ser quebradas e as consequências acabam se revelando destrutivas. 

O longa é exibido de maneira surpreendente, uma vez que foi dirigido pelo iniciante Wes Ball. O novato não fez feio, entregando uma trama com suspense contido e ação desenfreada; todas as cenas do labirinto são fabulosas e a preparação de elenco trabalhou bem nos momentos em que os corredores precisam escapar das paredes imprevisíveis e claustrofóbicas da monumental construção.


Infelizmente, a produção se preocupou mais com a ação do que com o desenvolvimento de personagens. Teresa (Kaya Scodelario), por exemplo, mal surge e já mergulha na adrenalina do enredo. A relação mais interessante talvez seja entre Thomas e Gally (Will Poulter), a qual remete às figuras de Moisés e Ramsés; este, o eterno relutante; o outro, defensor e guia da liberdade. 

Maze Runner, porém, é o típico filme pensado para se firmar uma franquia, assim como outras produções de temas similares. É provável que, devido a isso, os questionamentos e os mistérios levantados decepcionem um pouco, pois não serão resolvidos aqui e o gancho no final é mais do que explícito. O lado bom, pelo menos, é que a corrida começou bem e, se mantiver o fôlego, não haverá percalços no caminho e tampouco vergonha ao alcançar a linha de chegada. Ainda tem muito chão pela frente.


Trailer: