“Sabe quando dizem para aproveitar o momento? Não sei, mas acho que é ao contrário. Como se o momento nos aproveitasse”.
Nos minutos finais de Boyhood – Da Infância à Juventude, dois personagens chegam à conclusão catártica de que os momentos se aproveitam de nós. Essa sensação perpassa todo o filme de Richard Linklater (Escola do Rock), uma vez que a narrativa é estruturada por tais eventos que marcam o caráter de uma pessoa e que mudam a trajetória de sua vida.
A ideia é simples e pura: se considerarmos o fato de que somos criaturas históricas, situadas historicamente na sociedade, por que não transmitir essa emoção da maneira mais real possível por meio da arte? Quebrando as barreiras da dúvida e da paixão pela profissão, Linklater elaborou seu último – e mais ousado – projeto cinematográfico; rodar um longa que acompanhe a transição de alguém da infância até o instante de ingressar na faculdade. Neste caso, uma produção que demorou doze anos literais para ficar pronta.
A premissa do roteiro é básica, sem intenções de grandezas. O enredo tem início com Mason (Ellar Coltrane) no ensino fundamental. Logo fica claro qual é o retrato de sua condição: segundo filho de um casal divorciado, subordinado a acompanhar as mudanças pelas quais sua mãe passa. No processo dessa jornada, o garoto vai descobrindo as sutilezas e mazelas que a vida pode proporcionar, desde os interesses por videogame e outros elementos da cultura pop, ao uso do álcool e a incerteza de qual carreira profissional pretenderá seguir.
Sim, sob um olhar resumido, é um filme que não tem muito a oferecer a quem assiste. Todavia, à medida que a exibição progride, as identificações começam a surgir, pois trata-se de uma obra de documentação histórica, algo que remete um pouco a Forrest Gump. As vicissitudes dos personagens são perceptíveis, pois a fisionomia dos atores também se modifica.
Afinal, o elenco participou das gravações entre 2002 e 2013, brincadeira similar a que Linklater utilizou na sua famosa trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-noite, de modo que fortalece o argumento do projeto e traz o vago sentimento de que, à medida que o tempo passa, a vida que se desenrola ali é de alguém conhecido.
Durante os doze anos de filmagem, o roteiro passou por diversas alterações para condizer com determinados eventos. Portanto, músicas marcantes e temas como 11 de setembro, eleições presidenciais, Star Wars, Harry Potter, Batman e outros não poderiam passar despercebidos.
Com referências que enaltecem a obra e também pela adoção da veracidade, Boyhood ganha pontos por uma simplicidade capaz de gerar profundas reflexões, igual àquela feita nos minutos finais. Certamente é um filme que não serviu apenas para marcar a carreira de Richard Linklater e tampouco para entreter o espectador por quase 3 horas, mas, sobretudo, para dizer que, se a vida é história, cada vida contém um filme em si. E o resultado não pode ser menos que espetacular.
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