“Estive pensando muito ultimamente sobre você e eu. Sobre o que vai acontecer conosco no fim. Nós vamos matar um ao outro, não? Talvez você me mate. Talvez eu te mate. Talvez mais cedo, talvez mais tarde. Eu só queria estar certo de que realmente tentei mudar as coisas entre nós. Só uma vez”.
Reza a lenda que o falecido ator Heath Ledger, ao aceitar o convite para interpretar o Coringa no filme Batman – O Cavaleiro das Trevas, passou cerca de um mês trancado no quarto de um hotel para construir o personagem. E há quem diga que durante esse processo o australiano teve como leitura obrigatória a HQ Batman – A Piada Mortal.
De fato, após a leitura do quadrinho, é perceptível o nível de contribuição que a obra possivelmente exerceu sobre a atuação de Ledger. Publicada no ano de 1988, escrita por Alan Moore (criador de V de Vingança) e desenhada por Brian Bolland, a história leva o leitor a acompanhar mais um lendário duelo entre o Homem-Morcego e o Palhaço do Crime.
O enredo tem início com outra fuga do Coringa do Asilo Arkham. Enquanto tenta descobrir qual é o próximo passo do seu arqui-inimigo, o Cavaleiro das Trevas mal desconfia que desta vez o plano seja menos audacioso, embora continue sendo alicerçado pela insanidade.
O alvo do palhaço maníaco é o Comissário Gordon. Após sequestrá-lo e levá-lo literalmente a um parque de horrores, o objetivo do Coringa é revelar que seu princípio sádico, sua teoria condutora, está correta: que uma pessoa comum, um sujeito de bom caráter, pode enlouquecer. E seus argumentos são sustentados por meio de metáforas bastante reflexivas.
Ainda que seja uma HQ desenhada nos anos 80, é inconcebível não reconhecer os traços magníficos de Bolland, especialmente nas expressões de desespero, ódio e loucura. É também importante lembrar que o traço é consequência do ótimo roteiro de Alan Moore, e os flashbacks contidos na narrativa revelam uma origem interessante para o Coringa.
Em suma, realmente é visível algumas semelhanças com o segundo filme da trilogia de Christopher Nolan. Batman – A Piada Mortal é uma grande referência para consolidar todo o aspecto doentio e psicótico do Palhaço do Crime, ao passo em que fortalece e aprofunda a rivalidade e a semelhança entre ele e o Cavaleiro de Gotham. E se Heath Ledger considerou necessária a leitura desse quadrinho para compor seu personagem, então se torna mais evidente a qualidade da obra; afinal, foi capaz de inspirar uma atuação impecável.
“Lembrar é perigoso... Eu vejo o passado como um lugar cheio de ansiedade. O pretérito imperfeito, como você chamaria. As memórias são traiçoeiras! Num momento, você está perdido num carnaval de prazeres, com o aroma da infância, os neons da puberdade... No outro, elas te levam a lugares onde a escuridão e o frio trazem à tona coisas que você gostaria de esquecer. As memórias podem ser vis, repulsivas, brutais... como crianças”.
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