“Esta é a transcrição de um arquivo de áudio. Carter e Sadie Kane já me mandaram outras duas gravações, que eu transcrevi nos livros A Pirâmide Vermelha e O Trono de Fogo. Sinto-me honrado com a confiança dos Kane, mas preciso avisar que este terceiro relato é o mais perturbador até agora. O áudio chegou à minha casa em uma caixa chamuscada e esburacada com marcas de garras e dentes que o zoólogo municipal não conseguiu identificar. Não fossem os hieróglifos protetores do lado de fora, duvido que a caixa tivesse sobrevivido à jornada. Continue lendo e você vai entender o porquê”.
Não é de hoje que o autor Rick Riordan vem mostrando seu talento para dissertar narrativas de teor épico e histórico. Talvez essa facilidade se dê ao fato de que o texano foi professor de História por muitos anos, experiência que lhe rendeu um vasto conhecimento. No entanto, Riordan já provou que tem um carinho especial por mitologias e sua série Percy Jackson e os Olimpianos ocupa um lugar de destaque na lista dos mais vendidos.
Curiosamente, o autor não se atém apenas ao universo Greco-romano; outra série escrita por ele, As Crônicas dos Kane, fez sucesso e apresentou ao leitor vários aspectos da mitologia egípcia. E, por se tratar de uma trilogia, o desfecho da saga se concretiza em A Sombra da Serpente.
A vida de Carter e Sadie Kane é tão tumultuada que parece piada dizer que o futuro do mundo depende deles. No primeiro volume de suas aventuras – A Pirâmide Vermelha – ambos descobrem que são descendentes de uma linhagem faraônica do Antigo Egito e seus pais são magos da Casa da Vida, portanto, têm como objetivo estabelecer o equilíbrio da Criação. Em o Trono de Fogo, eles são incumbidos de descobrir um jeito para derrotar Apófis, a Serpente do Caos, que depois de anos presa recobrou suas forças e está pronta para destruir a Terra.
Em A Sombra da Serpente, a situação pouco mudou. Após a tentativa falha de despertar Rá, o deus Sol, e perceber que ele ressurgiu na forma de um velho senil e caduco, restam apenas três dias para Apófis se reerguer e afundar a Terra no mar de caos e escuridão.
À medida que a Serpente ganha mais aliados, mais a ordem do universo entra em colapso. Muitos magos permanecem contra a Casa da Vida e os deuses começam a enfraquecer, e alguns seres e criaturas desapareceram. Contudo, em meio a tantos problemas, Carter e Sadie descobrem uma provável chance de enfrentar Apófis: capturando a sombra da serpente. Mas a missão nunca é fácil, e para isso terão que ter a ajuda de um notável, ardiloso e assassino personagem egípcio.
De maneira cômica e envolvente, Rick Riordan mais uma vez conseguiu expor todo o seu arcabouço para esmiuçar e explicar uma mitologia. É claro que, por não ser um enredo episódico e sim contínuo, o autor parte da premissa de que, com o universo já estabelecido, explicações demais não são mais necessárias. Sendo assim, como é um encerramento, a tensão ganha maior espaço, e a ação se sobressai em diversos capítulos.
Os conflitos de Carter e Sadie estão mais agravantes, tanto na esfera social quanto na amorosa, e há uma pequena brecha para refletir se de fato são capazes de proteger o mundo ou se seria melhor entregar-se definitivamente ao Caos. A Sombra da Serpente finaliza (temporariamente, pelo menos) a jornada dos irmãos Kane e consolida ainda mais a ideia de que Riordan adora escrever para o público jovem. Carter e Sadie saem de cena e agradecem a companhia. E os leitores também.
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