sexta-feira, 25 de abril de 2014

As Crônicas dos Kane - A Sombra da Serpente


Esta é a transcrição de um arquivo de áudio. Carter e Sadie Kane já me mandaram outras duas gravações, que eu transcrevi nos livros A Pirâmide Vermelha e O Trono de Fogo. Sinto-me honrado com a confiança dos Kane, mas preciso avisar que este terceiro relato é o mais perturbador até agora. O áudio chegou à minha casa em uma caixa chamuscada e esburacada com marcas de garras e dentes que o zoólogo municipal não conseguiu identificar. Não fossem os hieróglifos protetores do lado de fora, duvido que a caixa tivesse sobrevivido à jornada. Continue lendo e você vai entender o porquê”. 


Não é de hoje que o autor Rick Riordan vem mostrando seu talento para dissertar narrativas de teor épico e histórico. Talvez essa facilidade se dê ao fato de que o texano foi professor de História por muitos anos, experiência que lhe rendeu um vasto conhecimento. No entanto, Riordan já provou que tem um carinho especial por mitologias e sua série Percy Jackson e os Olimpianos ocupa um lugar de destaque na lista dos mais vendidos. 

Curiosamente, o autor não se atém apenas ao universo Greco-romano; outra série escrita por ele, As Crônicas dos Kane, fez sucesso e apresentou ao leitor vários aspectos da mitologia egípcia. E, por se tratar de uma trilogia, o desfecho da saga se concretiza em A Sombra da Serpente

A vida de Carter e Sadie Kane é tão tumultuada que parece piada dizer que o futuro do mundo depende deles. No primeiro volume de suas aventuras – A Pirâmide Vermelha – ambos descobrem que são descendentes de uma linhagem faraônica do Antigo Egito e seus pais são magos da Casa da Vida, portanto, têm como objetivo estabelecer o equilíbrio da Criação. Em o Trono de Fogo, eles são incumbidos de descobrir um jeito para derrotar Apófis, a Serpente do Caos, que depois de anos presa recobrou suas forças e está pronta para destruir a Terra. 

Em A Sombra da Serpente, a situação pouco mudou. Após a tentativa falha de despertar Rá, o deus Sol, e perceber que ele ressurgiu na forma de um velho senil e caduco, restam apenas três dias para Apófis se reerguer e afundar a Terra no mar de caos e escuridão. 

À medida que a Serpente ganha mais aliados, mais a ordem do universo entra em colapso. Muitos magos permanecem contra a Casa da Vida e os deuses começam a enfraquecer, e alguns seres e criaturas desapareceram. Contudo, em meio a tantos problemas, Carter e Sadie descobrem uma provável chance de enfrentar Apófis: capturando a sombra da serpente. Mas a missão nunca é fácil, e para isso terão que ter a ajuda de um notável, ardiloso e assassino personagem egípcio. 

De maneira cômica e envolvente, Rick Riordan mais uma vez conseguiu expor todo o seu arcabouço para esmiuçar e explicar uma mitologia. É claro que, por não ser um enredo episódico e sim contínuo, o autor parte da premissa de que, com o universo já estabelecido, explicações demais não são mais necessárias. Sendo assim, como é um encerramento, a tensão ganha maior espaço, e a ação se sobressai em diversos capítulos. 

Os conflitos de Carter e Sadie estão mais agravantes, tanto na esfera social quanto na amorosa, e há uma pequena brecha para refletir se de fato são capazes de proteger o mundo ou se seria melhor entregar-se definitivamente ao Caos. A Sombra da Serpente finaliza (temporariamente, pelo menos) a jornada dos irmãos Kane e consolida ainda mais a ideia de que Riordan adora escrever para o público jovem. Carter e Sadie saem de cena e agradecem a companhia. E os leitores também.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Capitão América 2 - O Soldado Invernal


O preço da liberdade é alto. E é um preço que estou disposto a pagar”.

O mundo cinematográfico da Marvel merece congratulações há muito tempo. Os produtores não são somente bastante organizados, uma vez que têm planos de lançamento até 2028 (segundo Kevin Feige, produtor-mor da Casa das Ideias), como também conseguiram realizar o feito de unir vários heróis em uma mesma história, entrelaçando narrativas sem causar incoerência. 

O público gostou e o resultado previsto para Os Vingadores foi melhor do que o imaginado. Entretanto, os fãs são exigentes e, percebendo a seriedade com que a Marvel está progredindo em seus projetos, a tendência lógica é que a qualidade fique cada vez maior e melhor. 

Capitão América 2 – O Soldado Invernal é o produto que muitos espectadores estavam aguardando. Com um enredo miraculoso, além de suprir todas as falhas dos predecessores que deram início à fase 2 (Homem de Ferro 3 e Thor – O Mundo Sombrio), o filme possui informações importantes e eventos grandiosos, e muito provavelmente será um divisor de águas no universo Marvel. 


Após dois anos do ataque alienígena em Nova York, o capitão Steve Rogers (Chris Evans) ainda tenta se adaptar ao mundo moderno. Ele continua preservando seu caráter protetor e agora realiza serviços para a S.H.I.E.L.D., ao lado da Viúva Negra (Scarlett Johanson). 

O que eles, e tampouco Nick Fury (Samuel L. Jackson), poderiam suspeitar, é que uma conspiração vem ganhando poder no interior da S.H.I.E.L.D., e segredos se materializam na forma de inimigos, entre eles o Soldado Invernal, um experimento oculto e lenda para alguns. Na verdade, ele revela-se um antagonista exemplar para confrontar o Capitão América. 


Desta vez com direção de Anthony e Joe Russo, o filme consegue resgatar certos conteúdos do seu antecessor e certamente é o projeto mais sério da Marvel até o momento; há uma violência realista incomum, algo que talvez choque os despreparados. Toda a ação está formidável e a estética do Falcão insere mais adrenalina no plano aéreo. As cenas cômicas são bem colocadas e menos frequentes com relação a outros filmes, o que rende acréscimos positivos à película. 

Esses aspectos servem para perceber que o universo Marvel está se expandindo irrefreavelmente, e que uma atmosfera sombria e calamitosa surgirá em um futuro próximo e irá moldar os projetos que ainda estão no papel. Sendo assim, como filme solo, Capitão América 2 – O Soldado Invernal cumpriu o seu dever para com seus fãs; como átomo de um grande organismo, reprisou o que os produtores da Marvel, de maneira cruel, parecem sentir prazer em fazer: aumentar a curiosidade do espectador e intensificar a água na boca para o que vem por aí.  

Trailer:

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Batman - A Piada Mortal


Estive pensando muito ultimamente sobre você e eu. Sobre o que vai acontecer conosco no fim. Nós vamos matar um ao outro, não? Talvez você me mate. Talvez eu te mate. Talvez mais cedo, talvez mais tarde. Eu só queria estar certo de que realmente tentei mudar as coisas entre nós. Só uma vez”. 

Reza a lenda que o falecido ator Heath Ledger, ao aceitar o convite para interpretar o Coringa no filme Batman – O Cavaleiro das Trevas, passou cerca de um mês trancado no quarto de um hotel para construir o personagem. E há quem diga que durante esse processo o australiano teve como leitura obrigatória a HQ Batman – A Piada Mortal

De fato, após a leitura do quadrinho, é perceptível o nível de contribuição que a obra possivelmente exerceu sobre a atuação de Ledger. Publicada no ano de 1988, escrita por Alan Moore (criador de V de Vingança) e desenhada por Brian Bolland, a história leva o leitor a acompanhar mais um lendário duelo entre o Homem-Morcego e o Palhaço do Crime. 


O enredo tem início com outra fuga do Coringa do Asilo Arkham. Enquanto tenta descobrir qual é o próximo passo do seu arqui-inimigo, o Cavaleiro das Trevas mal desconfia que desta vez o plano seja menos audacioso, embora continue sendo alicerçado pela insanidade. 

O alvo do palhaço maníaco é o Comissário Gordon. Após sequestrá-lo e levá-lo literalmente a um parque de horrores, o objetivo do Coringa é revelar que seu princípio sádico, sua teoria condutora, está correta: que uma pessoa comum, um sujeito de bom caráter, pode enlouquecer. E seus argumentos são sustentados por meio de metáforas bastante reflexivas. 


Ainda que seja uma HQ desenhada nos anos 80, é inconcebível não reconhecer os traços magníficos de Bolland, especialmente nas expressões de desespero, ódio e loucura. É também importante lembrar que o traço é consequência do ótimo roteiro de Alan Moore, e os flashbacks contidos na narrativa revelam uma origem interessante para o Coringa. 

Em suma, realmente é visível algumas semelhanças com o segundo filme da trilogia de Christopher Nolan. Batman – A Piada Mortal é uma grande referência para consolidar todo o aspecto doentio e psicótico do Palhaço do Crime, ao passo em que fortalece e aprofunda a rivalidade e a semelhança entre ele e o Cavaleiro de Gotham. E se Heath Ledger considerou necessária a leitura desse quadrinho para compor seu personagem, então se torna mais evidente a qualidade da obra; afinal, foi capaz de inspirar uma atuação impecável. 

Lembrar é perigoso... Eu vejo o passado como um lugar cheio de ansiedade. O pretérito imperfeito, como você chamaria. As memórias são traiçoeiras! Num momento, você está perdido num carnaval de prazeres, com o aroma da infância, os neons da puberdade... No outro, elas te levam a lugares onde a escuridão e o frio trazem à tona coisas que você gostaria de esquecer. As memórias podem ser vis, repulsivas, brutais... como crianças”.