“A história prefere lendas a homens, prefere nobreza à brutalidade, discursos inflamados e boas ações silenciosas. A história se lembra da batalha, mas se esquece do sangue. Mas a história se lembra de mim antes de me tornar Presidente. Ela só se lembrará de uma fração da verdade”.
Em tempos que vampiros brilham sob a claridade do dia, têm relacionamentos com lobisomens e escrevem diários, deixando de lado o lado sombrio de sua mítica história e despertando o carinho de jovens, deparar-se com um filme vampiresco que preserve a tradição da origem dessa criatura é quase uma novidade. E para quem ainda prefere acreditar no estilo canônico, isso deve ser um prato cheio.
Por sorte, Abraham Lincoln – O Caçador de Vampiros deleita o espectador veterano com um festival de sangue que espirra na tela. E, com a ajuda de um 3D formidável (muito melhor que o de O Espetacular Homem-Aranha), a experiência ganha realces profundos e consegue realizar a façanha de entreter por quase toda a projeção.
Inspirado na obra de Seth Grahame-Smith, o qual também roteirizou o longa, e dirigido por Timur Bekmambetov (mesmo diretor de O Procurado, filme em que Angelina Jolie fazia balas darem curvas), a história começa mostrando a infância de Abraham sendo tragicamente alterada com a morte de sua mãe por um vampiro das redondezas de seu vilarejo.
Com o passar dos anos, o jovem Lincoln cresce com o desejo de vingança. Contudo, antes de concretizar sua vendeta, ele precisa entender como confrontar uma criatura de habilidades que ultrapassam o senso comum da realidade. Sendo ajudado por Henry, um amigo inesperado, Abraham aprende o necessário sobre as entidades vampirescas e parte rumo à sua jornada, com o machado em mãos.
O fato de misturar dados históricos com ficção rendeu muitas críticas negativas ao filme à medida que também despertou o interesse de vários cinéfilos. Entretanto, podendo utilizar essa ferramenta a seu favor, o longa desnorteia aquele que não conhece a história do presidente justamente por não ter lapidado mais o roteiro e a edição; certos eventos acontecem rápido demais e na metade ocorre um salto de tempo descomunal, permitindo que a transformação de Lincoln de um simples homem para um grande político fique apenas no imaginário. Se não fosse esse mau aproveitamento temporal, o arco da história poderia perdurar por uma trilogia, por exemplo.
Em contrapartida (ou não), as cenas de luta, as quais em sua maioria se apoiam em fabulosos efeitos computadorizados, foram coreografadas de forma magistral. A batalha com o inimigo final, porém, é decepcionante. E, tendo na direção uma mente tão lunática quanto a de Bekmambetov, era de se imaginar que existissem passagens que superassem o exagero de qualquer hipérbole (Preste atenção na luta entre os cavalos e no trem).
Em suma, com o acerto na parte estética e o defeito de desafiar a lógica da gravidade e a inteligência do espectador, Abraham Lincoln – O Caçador de Vampiros resgata um pouco dos elementos que tornaram os vampiros seres tão misteriosos e fascinantes. Espera-se agora que o diretor Bekmambetov tente se controlar mais e recupere a destreza que tinha na época em que suas balas faziam curvas, uma vez que o machado não funcionou tão bem.
"Somente os vivos podem matar os mortos".
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