Em 2008, ao assistir Batman – O Cavaleiro das Trevas, segundo filme do Homem-Morcego dirigido por Christopher Nolan, deparei-me com uma tremenda obra de arte. O encanto de fato foi tão profundo que muitos, além de mim, concordaram que seria uma proeza incoercível ultrapassar a qualidade estabelecida por um filme que talvez passasse despercebido se não fossem seus detalhes marcantes.
É irrefutável que um dos maiores destaques de O Cavaleiro das Trevas foi a atuação doentia e conturbada que Heath Ledger concedeu ao Coringa, a qual lhe rendeu vários prêmios póstumos (incluindo Oscar e Globo de Ouro) e o colocou no apogeu dos melhores vilões de todos os tempos. Dito isso, o filme tem o defeito de ser tão bom e empolgante, que uma sequência certamente exigiria o mesmo grau de dedicação de cada pessoa envolvida no projeto.
E então, quatro anos depois, chegamos ao Cavaleiro das Trevas Ressurge, terceiro e último filme da franquia Batman dirigido por Nolan e protagonizado por Christian Bale. E, antes de qualquer coisa, devo dizer que é um desfecho bastante corajoso. Não que seja inferior ao seu predecessor, pois Nolan é um tipo de diretor em que se pode confiar; o curioso, porém, é que em contraste com o ritmo acelerado, caótico e perturbador do segundo filme, aqui temos um enredo focado mais no lado sentimental e psicológico dos personagens, o que os torna mais táteis e verossímeis.
Oito anos depois dos acontecimentos finais de O Cavaleiro das Trevas, vemos uma Gotham pacificada graças a uma lei intitulada de Ato Dent, a qual foi responsável por prender mais de três mil criminosos que aterrorizavam a cidade. Batman nunca mais foi visto e é tido como um foragido da lei por ter assumido a culpa pela morte de Harvey Dent e, com isso, ocultado a verdadeira razão de seu óbito. Por consequência, Bruce Wayne (Bale), acometido pela tristeza e remorso, encontra-se exilado em sua mansão enquanto a empresa de sua família vai à falência.
Com a chegada de Selina Kyle (Anne Hathaway), uma ladra que parece não medir os resultados de seus atos, e com o surgimento de Bane (Tom Hardy) do subsolo – literalmente – para abalar os alicerces financeiros e morais de Gotham, torna-se necessário que Batman reapareça para garantir a paz novamente. A escolha de um vilão desconhecido para muitos se revela primordial no decorrer da projeção, pois aqui o desafio de Bruce Wayne, além de espiritual, é físico; o embate entre os dois é, no mínimo, brutal.
O que faz de Ressurge um filme ainda mais audacioso é que ele gira em torno de diversos temas, como terrorismo e conflitos sociais, fazendo com que a imagem do Batman em si fique um pouco apagada. Isso seria uma falha descomunal, mas o espaço é ocupado pelos personagens secundários, como o novato John Blake (Joseph Gordon-Levitt) e os já conhecidos Lucius Fox (Morgan Freeman), Comissário Gordon (Gary Oldman) e Alfred (Michael Caine), este último com belas cenas de deixar o coração apertado.
O clima de melancolia perpassa quase toda a duração (e são quase 3 horas de filme). Se Hans Zimmer, em O Cavaleiro das Trevas, soube arrebatar o espectador com sua sinfonia impecável, neste derradeiro episódio ele utiliza uma trilha sonora mais lânguida, preparando o público para aceitar que o final chegou. É importante salientar que há fortes referências a Batman Begins, por isso é recomendável uma maratona antes de encarar o terceiro capítulo.
Sim, Christopher Nolan soube contar uma história e passar a mensagem que queria. Nos mostrou o início da lenda, a queda do herói e o fim de sua jornada. Ressurge encerra com maestria uma parte da mitologia, abrindo portas para uma nova possibilidade. Não importa se é melhor ou pior que seu antecessor; a qualidade foi mantida. E provou aos incrédulos que homens são capazes de se transformar em lendas.
"Quando Gotham estiver em cinzas, você terá minha permissão para morrer".
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