"Eu sou o Mano Celo
Represento as minorias
Exijo mais respeito
E o pão de cada dia".
A literatura nordestina, ao contrário do que muitos pensam, é bastante rica. E, atrevo-me a dizer, promissora. Nomes como Ariano Suassuna, José de Alencar, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira constroem a herança da escrita regional e elucidam a importância da cultura nordestina.
Afinal, esses “cabras da peste” fizeram história. E durante o período em que me aventurei no acadêmico mundo das letras, foi-me dado o privilégio de apreciar a literatura do meu querido Rio Grande do Norte. Viajei com os versos sonoros de Jorge Fernandes, com o folclore de Cascudo e com a narrativa poética e indecente de Nei Leandro de Castro.
Ao passo que fui desbravando as linhas deixadas pelos mestres potiguares, recebi a oportunidade de voltar meu olhar para algo mais contemporâneo. E assim descobri o livro Mano Celo – O Rapper Natalense, do cronista Carlos Fialho. A obra, publicada pela editora Jovens Escribas, concede ao cidadão norte-rio-grandense a percepção de compreender o quão fundamental é conhecer um pouco do meio que o cerca.
Mano Celo, mais conhecido na classe burguesa como Marcelo Maurício Rodrigo de Paula Gadelha Dutton, é o fruto da união de duas grandes famílias renomadas da cidade do Natal. Nascido em berço de ouro – ou, como o próprio texto diz, diamantes – o jovem cresce sob a falsidade e as injustiças de pessoas que se julgam o degrau mais alto do patamar social.
Diante de tanta hipocrisia e ausência de honestidade, o rapaz se revolta e assume a identidade de Mano Celo. Um artista que utiliza o rap como ferramenta para denunciar as falcatruas dos poderosos e defender a causa dos menos favorecidos. Em sua jornada quixotesca, o herói desastrado atravessa diversas situações cômicas, mas nunca perdendo o propósito de proteger o seu rebanho.
Em o Rapper Natalense, Carlos Fialho realiza a proeza de criticar uma sociedade superficial que visa somente o lucro e, consequentemente, os benefícios próprios. Para quem reside em Natal ou já pisou na antiga cidade do sol, a aquisição de um exemplar é imprescindível. Eventos tradicionais e marcantes da província, como o Carnatal e o recente #ForaMicarla, são descritos de forma bem humorada e cativante. Mano Celo chegou com gosto de gás, provando que a literatura nordestina, de fato, caminha cada vez mais rumo ao progresso. YO!