domingo, 26 de setembro de 2010

Percy Jackson e o Mar de Monstros





Às vezes eu tenho muita pena dos heróis. Eles não têm descanso, não possuem dias de folga. Só relaxam de fato quando derrotam seus arqui inimigos ou quando morrem, é claro. Eles não são privilegiados pela dádiva de uma vida tranquila e despreocupada. Aliás, ninguém é. Deve ser por isso que também somos hérois... Heróis do cotidiano.


Um bom herói sempre traz consigo uma boa coisa: a vontade de querer acompanhar sua jornada até o fim. Cada aventura sua é repleta por novas missões e desafios a serem ultrapassados. Foi esta vontade que me levou a ler Percy Jackson e o Mar de Montros, segundo volume da saga do jovem semideus filho de Poseidon, pois ele, assim como um bom herói, ainda tem muita história para contar.


Antes de você continuar, leitor(a), devo alertar: pare agora caso não tenha lido o primeiro volume ou não tenha assistido ao filme. Mas caso esteja interessado, leia o comentário que fiz sobre ambos no mês passado, se você tiver amor ao bem estar de sua compreensão, e volte aqui depois.


Rick Riordan mais uma vez faz uma bela mistura de mitologia grega com a atualidade. Percy continua morando com sua mãe no subúrbio de Nova York e certa noite tem um sonho estranho: seu melhor amigo, Grover, o sátiro, estava fugindo de um monstro. Sabendo que seus sonhos sempre significam alguma coisa, ele parte para aula na nova escola com uma pulga atrás da orelha. Lá ele se prepara com seu novo amigo, Tyson, para o que lhes parecia mais uma aula de educação física. Até que são atacados.


A tendência é que as coisas piorem. O que realmente acontece. Percy descobre através de Annabeth que o Acampamento Meio Sangue está em perigo, pois as proteções que defendiam o lugar foram enfraquecidas. A lendária árvore de Thalia fora envenenada, e aquela era apenas uma das providências tomadas para o fortalecimento de Cronos. E o mais interessante, ele descobre que o fato de ter conhecido Tyson não foi mera coincidência.


Com Grover desaparecido, Percy vai descobrindo que seus sonhos com o menino-bode correspondem aos fatos; seu amigo realmente está em apuros e é por meio dos sonhos que pede ajuda. Juntos, ele, Annabeth e Tyson saem em busca do Velocino de Ouro, a única esperança para a restauração do Acampamento. Só que, como sempre, não será fácil. O Velocino encontra-se na ilha de Polifemo, o mitológico ciclope, localizada no Mar de Monstros. E para deixar as coisas menos complicadas, Grover está sendo mantido como refém do dito gigante.


Será que eles conseguirão salvar o amigo das garras do ciclope? Conseguirão encontrar o Velocino de Ouro antes do Acampamento ser extinguido? Poderão eles confrontar Luke e impedi-lo de ressuscitar Cronos?

Desta vez, Rick Riordan nos faz navegar por um mar recheado de monstros, nos faz mergulhar em águas perigosas e cheias de mistério. E Percy, mais uma vez, terá que pôr em prática todo o seu heroismo com a ajuda de Contracorrente, sua espada. Este livro encerra apenas uma parte de toda a saga, e o final revela a Percy e seus amigos que muitas coisas terríveis estão por vir.


A verdadeira batalha ainda não começou.

domingo, 19 de setembro de 2010

As Chaves do Reino - Sr. Segunda-Feira




"E, no primeiro dia, havia mistério".


Venho percebendo a um bom tempo que o número de comentários de filmes é maior que o de livros. Isso é bom, mas preocupante. Não que eu não goste de filmes, eu os adoro, só que também sou amante das letras e por isso acho justo tentar balancear as coisas. E foi então que lembrei de um livro fantasioso que li ano passado, e que deveras me encantou.


O dito cujo chama-se "As Chaves do Reino - Sr. Segunda-Feira", do autor Garth Nix, primeiro volume de uma série de sete livros. Infelizmente, aqui no Brasil, a obra não esteve no topo da mídia, enquanto nos Estados Unidos não posso dizer o mesmo; todos os livros já foram lançados lá fora. Acho que fazer um comentário sobre ele é uma forma de divulgar o talento que Garth Nix tem para escrever ficções.


O livro nos apresenta Artur Penhaligon, garoto órfão que mora com uma família adotiva e sofre de terríveis crises de asma, além do fato de ser medroso. Sua mãe é médica, o pai é músico e é o mais novo de uma prole de cinco filhos. Não é exatamente o que podemos chamar de um herói clássico. Contudo, o garoto revela pouco a pouco que é capaz de desempenhar este papel.


Recém-chegado na nova cidade, Artur vai para o seu primeiro dia na escola. O que ele não esperava era ter que participar de uma corrida na aula de educação física, que resultou em mais uma crise asmática no seu frágil corpo. Enquanto espera por ajuda, o menino recebe a visita de dois homens, um chamado Espirrador e o outro Sr. Segunda-Feira. Eles lhe entregam uma chave no formato do ponteiro de um relógio e um livro. E é aí que tudo muda.


Artur passa a enxergar uma enorme casa em seu bairro, casa esta que nunca estivera ali antes. Para piorar, quando se recupera e retorna à escola, ele é atacado por um homem chamado Meio-Dia de Segunda-Feira. Mas isso não é nada. A coisa realmente piora quando uma praga assola todo o país e pessoas começam a morrer. Ninguém sabe qual é o antidoto para aquela nova doença. E Artur, sabendo que de alguma forma era tudo culpa sua, pega a chave e, graças às instruções do livro que recebera, entra na Casa na esperança de encontrar a cura e salvar todas as pessoas, incluindo sua família.


O que ele não sabia era que dentro da Casa existia um mundo totalmente diferente do seu, e que ali havia pessoas à sua espera. Com a ajuda de Suzy Azul-Turquesa, uma garota que morava na Terra e que foi levada para lá pelo Tocador de Gaita, ele conhece Will, o Testamento. Esse ser explica a Artur que ele é o Herdeiro da Chave do Reino, e está ali para libertar todas as pessoas da Casa Inferior das mãos do Curador, Sr. Segunda-Feira. Agora, para poder salvar seu mundo, ele precisará compreender este novo.


Só que a imaginação que Garth Nix não termina aqui. A parte complicada da história começa agora e eu vou tentar explicar da melhor maneira possível. A Casa é um mundo paralelo que possui sete reinos, cada reino governado por um Dia diferente. A Casa Inferior, reino onde Artur entra, é governada pelo Sr. Segunda-Feira. As Regiões Afastadas, por exemplo, é governada pelo Horrível Terça-Feira e o Mar Fronteiriço, pela Quarta-Feira Submersa. E por aí vai. Tudo bem até aqui? Muito bem, continuemos.


A Casa foi criada por uma entidade chamada de Arquiteta. Ela fez a Casa a partir do Nada, um material que nas mãos certas pode criar tudo. Acontece que em um belo dia, inexplicavelmente, a Arquiteta desaparece e deixa para trás o Testamento. Os Dias dividem o Testamento em partes iguais, sete fragmentos. Will é apenas o primeiro pedaço do Testamento e explica a Artur que ele é o Herdeiro que a Profecia menciona, tendo agora como missão a restauração da paz dentro da Casa e a recuperação de cada parte do Testamento.


Artur, em posse da Chave, assumi a responsabilidade de enfrentar o Sr. Segunda-Feira e cada um dos Dias Seguintes, embora muitas vezes de um jeito relutante. E esse é apenas o primeiro livro. Mesmo sendo uma obra de fantasia, não custa nada dar uma conferida nesta série que instiga nossa imaginação. Porque, de alguma maneira, existe um Artur Penhaligon dentro de cada um de nós.

domingo, 12 de setembro de 2010

Nosso Lar




"Você chegou a pensar que existe vida depois da vida?"


Antes de mais nada, gostaria de deixar uma coisa bem clara: não sou Espírita. Sou apenas um "simpatizante", se assim posso dizer, e um apreciador de filmes nacionais. Não vou tentar discutir aqui questões de fé, até porque acredito que discuti-la é de certa maneira uma perda de tempo. Fé é igual em qualquer lugar, seja no Japão ou em Saturno. O problema mesmo é de que forma você decide propagar esta fé... Enfim, é melhor não continuar, pois religião, assim como a política, é uma área onde não pretendo meter o dedo. Pelo menos não no momento atual.


Se você não for adepto dessa doutrina (esqueci qual outro nome posso atribuir a ela), tente dissipar seus preconceitos por apenas alguns minutos enquanto lê este texto e imagine-o como um filme normal, igual a qualquer outro. Abra sua mente, permita-se conhecer novos horizontes... Acho que às vezes eu mesmo deveria escutar este conselho.


Nosso Lar é o filme brasileiro do momento. Baseado na obra psicografada por Chico Xavier, o filme nos conta a vida de André Luiz (o verdadeiro autor do livro, diga-se de passagem), médico que vive no Brasil da década de 30. Apunhalado por uma doença, André não resiste e morre. Quer dizer, o seu corpo morre...

André cai de peito no Umbral, um lugar comparado ao Purgatório, onde almas pecadoras e agoniantes vagueiam pela eternidade. Após passar um tempo imerso no desespero daquele lugar funesto, ele é resgatado e vai para a Colônia Nosso Lar, uma cidade cercada por Ministérios que chega a lembrar Brasília. Lá ele aprende a seguir regras, volta a trabalhar (mas não exercendo a medicina terrestre) e reencontra velhos conhecidos. Com o auxílio de alguns ministros e do próprio Governador, ele entende que para voltar a ver sua família é preciso ter merecimento e passa a abandonar os antigos sentimentos que o fizeram tornar-se um homem arrogante.

E agora iremos sair um pouco do enredo e adentrar na parte técnica do longa. Eu diria que 50% de Nosso Lar é constituído de Efeitos Especiais. De boa qualidade, por sinal. Não é à toa que foi o filme nacional mais caro até aqui. A maneira como a cidade foi projetada é bastante interessante. A trilha sonora também é de se chamar a atenção, e devo dizer que é até exepcional em certos momentos.


Não li o livro e também não tenho interesse. Todavia, gostei da organização que vi em Nosso Lar. Muito ousado para um filme nacional. Acho que é disso que o nosso cinema precisa, mas não necessariamente com um orçamento exacerbado. Em determinadas situações, a beleza encontra-se na simplicidade.


Vale a pena dar um passeio para conhecer a Colônia Nosso Lar. Porque, como o nome já diz, lá todos nós somos bem vindos. Estamos esperando por você.

sábado, 4 de setembro de 2010

O Homem que Copiava




"Dinheiro... é só um pedaço de papel que todo mundo acredita que vale alguma coisa. Se ninguém acredita, não vale nada."


Percebi esta semana, caro(a) leitor(a), que já faz algum tempo que eu não posto um comentário sobre um filme nacional. O que de certa forma foi um pecado de minha parte, pois sou fanático por filmes nacionais. Filmes bons, é claro. De boa qualidade e conteúdo. Acho que já tratei deste assunto aqui quando escrevi meu primeiro comentário cinematográfico.

Bom, se tratando de filmes nacionais, posso proferir diversos títulos que me agradam. Mas há entre eles um que se destaca com um louvor de altíssima dimensão. Este que, na minha concepção, é uma das melhores produções brasileiras já feitas em todos os tempos. Sei muito bem que alguns irão me criticar (e poucos irão concordar), contudo, meus olhos não têm como não observar a grandiosidade de "O Homem que Copiava".


O filme foi dirigido e escrito por Jorge Furtado (Louvado seja!) e é protagonizado por Lázaro Ramos, um dos melhores atores nacionais da atualidade(e um dos meus preferidos também). O enredo nos mostra o cotidiano de André (Lázaro), jovem de 19 anos que trabalha numa papelaria na função de operador de fotocopiadora na cidade de Porto Alegre. Nas horas vagas, André fica em casa lendo, desenhando, assistindo tv e às 23h ele vai bisbilhotar os vizinhos com seu binóculo. Foi em uma dessas empreitadas que ele conheceu Silvia (Leandra Leal) e apaixonou-se à primeira vista.


O que encanta o espectador em O Homem que Copiava não é apenas a simplicidade com que Lázaro Ramos encarna André, mas também a simplicidade que a história carrega; pois, basicamente, esse filme conta uma história de amor. Porém de uma maneira inteligente e nada habitual.


André passa a seguir Silvia e descobre onde ela trabalha. Ele entra na loja e se encanta ainda mais com a garota. Como ela trabalha em venda de roupas, ele decide comprar uma peça feminina para sua mãe que custa 38 reais. O problema é que André é duro e precisa pedir dinheiro emprestado para alguém.


Através de sua colega de trabalho, Marinês (Luana Piovane, e vale salientar que sua atuação ficou ótima), ele conhece Cardoso (Pedro Cardoso, aqui fazendo o que sabe fazer de melhor: ser engraçado) a quem pede os benditos 38 reais. Só que Cardoso também é um duro.


E é em momentos como esse que não podemos medir o que um homem apaixonado é capaz de fazer. André nos conta no início do filme como é operar uma máquina fotocopiadora. Uma descrição que para alguns pode ser desnecessária, mas a máquina revela-se o objeto primordial do filme. Ele copia uma nota de 50 reais e finalmente compra a tal roupa, em troca ganhando o sorriso da mulher idolatrada.


À medida que a relação de André e Silvia vai se itensificando, seus atos vão ficando mais preocupantes. Ele continua a copiar dinheiro sempre em prol da alegria da garota ou de sua segurança e acaba, sem perceber, se metendo na maior roubada. Será o amor capaz de salvá-lo? O dinheiro realmente pode comprar tudo, inclusive a inocência de seus atos criminosos? André vai descobrindo na base do sacrifício que ter muito dinheiro é uma tarefa perigosa que pode causar graves consequências.

É provável que alguns espectadores não gostem das formas com as quais os personagens resolvem seus problemas, mesmo assim isso não estraga a beleza do filme.

Estou me coçando para contar mais coisas sobre este filme, mas tenho medo de estragar a ansiedade de quem for assistir. Mas garanto uma coisa: O Homem que Copiava faz parte de um conjunto completo de bons elementos; você se admira com a história e com as atuações, você se encanta pela forma como a qual o filme foi dirigido, escrito e editado, você entra no clima de adrenalina e tristeza que a trilha sonora lhe proporciona...


E o final... Ah, que belíssimo final! Uma mistura poética de psicologia com filosofia e ideologia que permeia todo o longa e se converge no último momento.


Vou parar de falar porque acho que já consegui de você o que queria: a curiosidade de ver o filme. E não se arrependerás. Não mesmo.


"Tem uns detalhes que eu não posso e nem quero falar. Não importa. Quando a gente conta, tudo acontece rápido e parece que as coisas se encaixam. A vida é mais complicada que um quebra-cabeças... Agora parece mais fácil entender a vida".

Só vai entender quem assistir o filme:

Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;

Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;

Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono

Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.

( trad. Ivo Barroso)

William Shakespeare - Soneto 12