“Vá onde as pessoas
estão. Não precisa procurar muito tempo. Tudo bem se tiver medo, David. Porque
esta parte não vai ser igual aos quadrinhos. A vida real não cabe dentro de uns
quadradinhos com desenhos coloridos”.
Em meados de 1999, o cineasta indiano M. Night Shyamalan ganhou fama com o suspense sobrenatural O Sexto Sentido. Além da ótima
repercussão, o filme ainda lhe rendeu uma indicação ao Oscar. O incrível
talento do diretor fez com que, apenas um ano após o seu sucesso, entregasse ao
público outro grande clássico também protagonizado por Bruce Willis.
A vida de David Dunn (Willis) não anda bem. Seu casamento
está à beira do fim, sua relação com o filho é omissa, sua promissora carreira
no futebol terminou de maneira brusca na época da faculdade, e seu emprego
atual é de vigilante. Tudo piora depois de um acidente de trem no qual ele é o
único sobrevivente.
A partir daí, a tristeza que David sente diante da vida se
mistura com as dúvidas. Como ele pôde escapar sem ter fraturado osso algum e
tampouco sofrido nenhum arranhão? Sua curiosidade o leva a conhecer Elijah
Price (Samuel L. Jackson), um
fanático colecionador de revistas em quadrinhos. Elijah possui uma rara doença
nos ossos e, por ter um corpo muito frágil, ele desenvolveu a teoria de que
possa existir alguém no mundo que seja seu oposto.
Shyamalan tem uma percepção peculiar ao estruturar a
narrativa de seus filmes, uma vez que roteiriza todos e traz temáticas
fabulosas para um prisma realístico, e com Corpo
Fechado não é diferente. A construção dos personagens e seus dramas
pessoais crescem paralelamente com o suspense (As interações de Elijah e David
são formidáveis e imprescindíveis), assim como fez em O Sexto Sentido, Sinais e
A Vila.
O diretor também caprichou na criatividade e nas cenas de
impacto de Corpo Fechado. Vários
momentos são compostos por planos-sequências, o que ajuda o espectador a manter
a concentração no enredo (A cena da arma na cozinha é um exemplo disso). E a
trilha sonora, composta por James Newton
Howard, traz nuances enigmáticas e heroicas para o caminho de respostas que
David procura.
Em Corpo Fechado,
M. Night Shyamalan traz conceitos de heróis do mundo real sob a perspectiva de
um gênero textual marcante para a sociedade, antes mesmo dos super-heróis
entrarem em vigor em Hollywood. Em tempos de crueldade e morticínios, é bom ver
uma obra que traz reflexão e, de forma inteligente e talentosa, mostra que
simples atitudes de bondade podem levar esperança e salvação.
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