sábado, 27 de agosto de 2016

As Crônicas de Aedyn: Os Escolhidos


O casamento do cristianismo com a literatura fantástica não é novidade. Tendo em vista que muitos enxergam o livro de Apocalipse como uma narrativa fabulosa, não há como negar que a união das duas temáticas, além de ser aceitavelmente possível, combina. E algum dos frutos desse matrimônio podem se transformar em formidáveis referências.

As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, é apenas um dos exemplos; embora tenha profundas alegorias ao universo cristão, a obra conquistou um público variado. Consequentemente, outros escritores se enveredaram por esse caminho de possibilidades infinitas (Há também o brasileiro Leandro Lima, com As Crônicas de Olam), e foi pensando dessa forma que o irlandês Alister McGrath criou a série As Crônicas de Aedyn.

Os Escolhidos, primeiro volume da trilogia, narra a história de dois irmãos, Pedro e Júlia. O menino, devoto a maquinas e química; a menina, uma ávida leitora. Ambos vão passar as férias na casa dos avós, cuja parte do terreno é ocupada por um jardim. E uma noite sem lua, Júlia percebe que o jardim está brilhando. A menina é guiada a entrar no jardim, acompanhada por seu irmão, e os dois caem em um lago.

A dupla desperta na terra de Aedyn, local mágico e extraordinário. No entanto, é um ambiente dominado por três lordes: o Chacal, o Lobo e o Leopardo, os quais regem o território com leis severas e mantêm uma legião de pessoas como escravas. Os irmãos descobrem que fazem parte de uma profecia que promete paz e liberdade ao povo de Aedyn, e logo se veem no processo para arquitetar uma rebelião.

Alister McGrath criou um universo com muitas aventuras, mas sem intenções de grandeza – pelo menos no primeiro volume. É perceptível durante a leitura que o teor do enredo é bastante juvenil e, em determinados momentos, inocente e simplório. O livro possui menos de 200 páginas, permeadas por uma série de acontecimentos suaves e conflitos rápidos. Contudo, essa pureza não é um demérito; ela resgata o saudosismo da infância e o encanto transmitido por meio do olhar de dois jovens.  


As Crônicas de Aedyn: Os Escolhidos é um guia para crianças e adolescentes que almejam alcançar a iniciação no mundo da literatura fantástica. E uma vez que um mundo é descoberto, a curiosidade para conhecer outros é despertada. E essa prazerosa e inesquecível experiência é algo difícil de largar. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Esquadrão Suicida


Eu não vou matar você. Só vou lhe deixar muito, muito machucada”.

A construção de uma franquia, ou de um universo cinematográfico, não é algo que se faz da noite para o dia. É preciso tempo para planejar e organizar os mínimos detalhes. Neste quesito, a Marvel tem motivo para se vangloriar; seu universo já está na terceira fase, com planos de continuar até depois de 2020. O mesmo não pode ser dito da DC, a qual tem um mundo recém-estabelecido e que, infelizmente, ainda tem muito que aprender.

Batman vs. Superman: A Origem da Justiça recebeu um amontoado de críticas negativas por ser um filme muito sério, longo, por possuir vários personagens no enredo, e fatos que não são explicados adequadamente. A versão estendida, para felicidade geral, corrige as falhas apresentadas. Era de se esperar que a DC acertasse o tom com Esquadrão Suicida, película que dá continuidade a esse novo universo, mas a sensação confusa permanece a mesma.


Seguindo a cronologia de A Origem da Justiça, Superman está morto e o governo precisa desenvolver uma força tarefa que seja capaz de defender as maiores autoridades do país no caso de surgir uma entidade tão poderosa quanto o Homem de Aço. Amanda Waller (Viola Daves) convence os governantes a porem em prática uma ação que una os piores criminosos para que possam combater as futuras ameaças. 


Os selecionados para compor o time são Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie, um dos pontos altos do filme), Bumerangue, Crocodilo e Diablo. A equipe está sob a supervisão de Rick Flag e Katana, formando então o esquadrão. Se falharem, serão mortos; se tiverem êxito, a pena de cada um será reduzida.


A DC tentou seguir a moda dos filmes leves, prometendo, pelo que era perceptível nos trailers, um enredo irreverente, recheado de piadas, um design gráfico exagerado e uma trilha sonora pop. Esse contraste deve-se à negatividade que caiu sobre Batman vs. Superman e também pelo sucesso de longas como Deadpool e Guardiões da Galáxia. Esses são os pontos positivos de Esquadrão Suicida


Agora vamos para o que o filme errou, o que não é pouca coisa. Assim como ocorreu com Zack Snyder, David Ayer teve a infelicidade de ver seu projeto picotado pela edição. Ordens da produção da Warner, é claro, e tal norma enfraqueceu o roteiro e, consequentemente, todo o potencial que Esquadrão Suicida tinha a conceder. O exemplo disso está no Coringa de Jared Leto; não se pode dar uma opinião conclusiva a respeito da construção que ele deu ao Palhaço do Crime, uma vez que a maioria das cenas em que o personagem aparecia foram excluídas. O próprio ator se revelou insatisfeito e frustrado com os cortes.


A edição prejudica também o andamento da trama, incluindo algumas faixas da trilha sonora. O filme vai bem até a metade, porém tropeça quando entrega a ação, danifica o clímax com uma morte desnecessária e falha drasticamente no desenvolvimento dos personagens – ao ponto de um deles declarar que são uma família, embora a exibição não mostre embasamento algum para tal assertiva. David Ayer, além de dirigir, foi o responsável pelo roteiro. E talvez a culpa seja dele por ter inserido uma vilã tão superficial quanto Magia, que mesmo possuindo poderes sobrenaturais precisa construir uma máquina para destruir a humanidade. Simplesmente não faz sentido. 


Esquadrão Suicida é o típico filme que deveria ter uma classificação etária alta, tendo em vista os personagens insanos que contém. Todavia, o enredo tenta humanizar os vilões de uma maneira que apenas funciona com o Pistoleiro e Diablo; e, de modo inacreditável, essa humanização sobra até para o Coringa, que em vez de ser uma ameaça se mostrou um simples gângster apaixonado por sua amante.


No entanto, da mesma forma que em Batman vs. Superman, Esquadrão Suicida se esforça em fundamentar um universo, trazendo participações de outros heróis da DC e fazendo menções para o que está por vir (cena durante os créditos). A Warner ainda tem tempo de corrigir a algazarra que causou, e os fãs esperam que esse conserto traga mais oportunidades para Jared Leto, Viola Davis e Magot Robbie. O caminho para o triunfo é marcado por erros, e um dia todos ficarão felizes por finalmente reconhecerem que a DC encontrou o rumo certo. 

Trailer: