“A conduta
faz o homem”.
Em 2010, o diretor Matthew
Vaughn chamou a atenção com o brilhante Kick-Ass,
pelo modo irônico e inusitado com o qual abordou uma temática heroica/realista
com pinceladas de sangue. Quase no estilo Tarantino, pode-se dizer. E como o
sucesso é um osso difícil de largar, é quase óbvio que a fórmula seja repetida,
ou, como é o caso de Kingsman: Serviço
Secreto, aperfeiçoada.
Eggsy (Taron Egerton)
é um típico jovem rebelde que perdeu todas as oportunidades que a vida
concedeu. Após ser preso por mais um ato de vandalismo, ele é solto por Harry (Colin Firth), velho amigo de seu pai e
que tem uma dívida a pagar. Harry lhe oferece uma vaga na Kingsman, uma secreta
organização internacional de espionagem, e uma loja de alfaiates para o resto
do mundo.
Na Kingsman, Eggsy e um grupo de recrutas tornam-se rivais
para competir por uma vaga na organização. Enquanto passam pelos testes mais
inesperados e mirabolantes, o empresário e verdadeiro prodígio da tecnologia,
Richmond Valentine (Samuel L. Jackson),
elabora um plano para elevar a humanidade a um novo status, sem se preocupar
com o número de vítimas que serão necessárias para a conclusão de seu projeto.
O roteiro de Kingsman
segue a premissa básica da jornada do herói, apresentando um jovem sem
perspectiva e o guiando ao caminho das virtudes, das condutas e das regras. O
fato dos personagens possuírem nomes de guerra que remetem à mitologia do Rei
Arthur (Merlim, vivido por Mark Strong,
por exemplo) fortalece a ideia de que, por ser uma história de origem, metade
do enredo se preocupa com o aprendizado de Eggsy e foca na sua transição de
delinquente para espião, assim como, na versão fabulesca, o jovem Arthur teve
que retirar a espada da rocha.
Tal característica, que por muitos pode ser vista como
clichê, poderia ser o ponto fraco de Kingsman.
Porém, sendo Vaugh mestre da ironia e o filme uma adaptação de uma HQ de Mark Millar, a tradição é a menor das
ameaças e inclusive ajuda a tornar a obra mais encantadora. No entanto, o maior
trunfo do longa é a quantidade de referências e, especialmente, a capacidade de
satirizar a si mesmo e também outros filmes do gênero.
O vilão construído por Samuel L. Jackson tem a língua presa,
veste-se como um adolescente e tem uma ajudante com lâminas no lugar de pernas.
Em uma conversa com o personagem Harry durante um jantar, Valentine afirma que
gostava de ver filmes de espião quando criança, enquanto Harry refuta que os
filmes eram tão bons quanto os seus vilões. O pequeno diálogo reflete a
dualidade de Kingsman, sempre
pendendo entre a comicidade e a tragédia. Um destaque especial para a cena da
igreja, onde ocorre uma das maiores carnificinas cinematográficas dos últimos
anos e que certamente vai entrar na lista das cenas de ação mais desembestadas
da História.
Apesar da ironia e bom humor, Kingsman: Serviço Secreto defende bem o gênero da ação/aventura e
tem tudo para entrar no cânone da espionagem do século XXI. Matthew Vaughn uniu
o que funcionou tão bem em Kick-Ass e
no seu predecessor X-Men: Primeira Classe
que é bastante possível que os cavalheiros espiões retornem para novas
missões. James Bond que se cuide.
Trailer:
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