“A arte existe porque a
vida não basta”, foi o que falou o poeta brasileiro Ferreira Gullar, quando
questionado a respeito de suas atividades poéticas. Do outro lado do Atlântico,
o filósofo alemão Nietzsche disse certa vez que a arte deve embelezar a vida e,
por conseguinte, ela existe para que a cruel realidade não nos destrua. De modo
curioso, embora sejam de culturas distintas, ambos conceituaram muito bem algo
que salva (e continua salvando) nossas vidas.
A habilidade de parar
para apreciar um objeto artístico e cultural, seja sua essência complexa ou
simplória, reacionária ou livre de qualquer barreira, é uma maneira de escapar
das misérias que afligem a sociedade e, inevitavelmente, nosso cotidiano. Há
quatro anos, quando criei o Menino das Letras, não imaginei que o meu produto
fosse chegar tão longe, e tampouco a este nível. – Fragmento da postagem do quarto
aniversário do Menino das Letras, há um ano.
Não vou mentir: normalidade nunca foi bem o meu forte.
Inclusive, é uma audácia que essa palavra exista em meu vocabulário. Não se
pode esperar previsibilidade e estabilidade de um indivíduo que mergulha nas
palavras, viaja por outras dimensões e permite que narrativas permeiem seu
corpo como a manteiga que reveste o pão. Sim, palavras são a minha armadura.
Não é uma falha ser incomum. Ver além do limite, sentir
aquilo que muitas vezes parece insípido, ouvir sons no silêncio inconsolável
são características que não deveriam ser taxadas como anomalias. Pelo
contrário: é um privilégio estar fora do círculo da normalidade. Talvez uma das
evidências mais claras que eu tenho para corroborar minhas atividades incomuns
seja o Menino das Letras.
Este mês o Menino das Letras completa 5 anos e ainda me
parece um recém-nascido que não consegue andar sozinho. Meia década, como o
tempo passa! O que era um passatempo tornou-se um compromisso, e o blogue
sobreviveu apesar de alguns trancos e barrancos. Viver a arte e escrever a
respeito da mesma me fez enxergar outras pessoas iguais a mim, pois o blogue,
mesmo que sempre tenha sido pequeno e possuído um alcance limitado, ganhou
alguns leitores fiéis. E se você está lendo isso, não tenha vergonha de
admitir: você gosta disso também. Gosta da sensação de conhecer a sétima arte,
de descobrir livros desconhecidos, de relembrar clássicos que marcaram tempos
de outrora.
214 postagens e mais de 63 mil acessos. Se o Menino das
Letras ainda respira, é graças a cada pessoa que dedica um minuto que seja para
ler a atualização da semana, para conhecer um pouco mais da obra analisada, ou
simplesmente por que não tinha nada melhor para fazer e encontrou esse blogue
aparentemente interessante. Você dá fôlego a esta página. Eu sou apenas o
mensageiro.
Não posso fazer promessas, é algo que aprendi. Não posso
prometer que o Menino das Letras vai resistir ao tempo e, quem sabe, chegar ao
seu décimo aniversário. Não posso simplesmente ir contra o rumo natural das
coisas; novas prioridades sempre vão surgir. Quanto tempo vai durar? Não sei...
A única coisa da qual tenho certeza é de que a viagem continuará sendo
prazerosa até chegar ao seu ponto de encerramento. E espero que você, tão
incomum quanto eu, continue ao meu lado nessa imprevisível jornada.
Vamos comemorar?