Há uma frase memorável de Charles Chaplin em que ele diz que sorrisos e lágrimas são antídotos contra o ódio e o terror. Tal enunciado não poderia estar tão correto, uma vez que pode ser muito bem encaixado na contemporaneidade e, quiçá, em épocas futuras também. Entretanto, nos tempos da modernização, onde tudo era novidade, talvez essas palavras tenham tido um valor maior.
Tempos Modernos, filme de 1936, dirigido e escrito pelo próprio Chaplin, nos traz um enredo no qual é mostrado as consequências de uma vida atingida pela revolução industrial, de um modo cômico e crítico. Charles reprisa seu personagem mais famoso, o Vagabundo, que aqui é um operário submetido ao trabalho da repetição.
Depois de transgredir as leis da era das máquinas, sob um súbito ataque de loucura, o pobre alienado é preso e percebe que a carceragem é um ambiente mais saudável que o mundo lá fora, onde a modernidade se faz cada vez mais presente com seus carros, furadeiras e pessoas se locomovendo para as fábricas iguais a ovelhas indo para o abate (Repare na cena inicial).
É interessante como Chaplin sabia equilibrar as coisas, de uma forma que a mensagem a ser passada penetra por meio de situações paralelas. Outros personagens, como a menina pobre, refletem a fome, a miséria e o desemprego que a modernização causou, nos lançando a reflexão de que muitas vezes os avanços tecnológicos não trazem bons frutos. Um exemplo disso é evidente na frequência com que Charles troca de emprego.
Para muitos considerado um dos pais do cinema, ao lado dos irmãos Lumière e George Méliès, Charles Chaplin era um artista a frente da sua época. E, assistindo a Tempos Modernos, é fácil ver o motivo pelo qual ele recebeu esses títulos. Ele deu ritmo aos filmes mudos e trouxe um humor inovador, algo que antes era raro de se ver. Além disso, ele dirigiu todos os longas nos quais atuou e era responsável pela trilha sonora também (Smile, uma de suas composições mais bonitas, tem sua estreia aqui).
O curioso de Tempos Modernos, apesar de ser um filme antigo, é perceber que os ‘tempos’ não mudaram tanto assim. Ainda é visível sentir a desigualdade social, pessoas reivindicando seus direitos e cidadãos se agarrando à tecnologia e à ilusão de que ela pode levar a uma vida mais alegre. E mesmo tendo um pano de fundo dramático, ao final Chaplin termina com uma de suas maiores lições: não importa qual seja o tamanho das dificuldades, sempre será possível sorrir.