sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Fabulosa Arte de Não Dizer Nada



Eis mais um resultado da Oficina de Crônicas que participei no mês passado. Novamente, peço desculpas para quem não conseguir captar o humor e a ironia. Boa leitura. 

 
Muitas pessoas já vieram até mim dizendo que sou bastante criativo quando exerço o meu dever de escritor. Todos, inclusive os leigos, sabem que o exercício da escrita é uma prática difícil de manter. Alimentar a ideia e redigi-la, respeitando os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos, é uma coisa que somente os loucos se atrevem a desafiar. E, por ser um louco assumido, acrescento mais uma característica ao ato da escrita: escrever é como ficar ajoelhado em caroços de feijão. Experimente passar no mínimo meia hora, e verá como dói...

O interessante, porém, é que as pessoas não sabem da missa a metade. Tudo bem redigir textos de gêneros e temas diversos, pois o bom da escrita é justamente essa liberdade de falar sobre o que quiser. Tendo, portanto, transitado por variados assuntos, surgi-me a vontade voraz de não falar sobre coisa alguma. Isso mesmo. Vamos conversar a respeito de absolutamente nada.

Alguns colegas já disseram que o chocolate ajuda na inspiração. No meu caso, tive que recorrer ao velho miojo, o qual, por sinal, não está simpatizando muito com o meu estômago... Talvez seja melhor assim; quanto maior for a dor de barriga, mais criatividade eu terei para não ter assunto. É uma abordagem bastante rica, se pararmos para pensar. Acredito, inclusive, que o Governo deveria disponibilizar horas grátis para abusarmos do nosso direito de não ter o que falar.

Sendo assim, a sociedade avançaria nas mais distintas áreas. A educação, por exemplo, finalmente atingiria um patamar respeitável com um método inovador criado pelos professores. Batizariam de “A Fabulosa Arte de Não Dizer Nada”. As aulas seriam ministradas por meio de mímicas, estimulando a cognição dos alunos no momento em que tentam descobrir qual matéria está sendo transmitida. E, com a humanidade aderindo a esse novo estilo de vida, em um futuro muito distante, todos teriam o dom da telepatia. Se bem que ler mentes tem lá suas desvantagens.

Os relacionamentos, pelo menos, ficariam cada vez mais complicados de se concretizarem.

 - Nossa! Essa garota é uma gata! Eu até poderia xavecá-la, se não fosse sua tara sexual por manequins de shopping...

Os jornais seriam constituídos exclusivamente por imagens. Imagens da desgraça alheia, de preferência. O cinema voltaria a ser mudo, como na época de Chaplin. As músicas seriam apenas instrumentalizadas. E os espetáculos teatrais seriam compostos somente por gestos e expressões faciais. Quem precisa das palavras, quando sorrisos e lágrimas já dizem tudo? É provável que o silêncio seja a resposta para muitas perguntas. Quiçá pudesse curar as guerras, o desequilíbrio econômico, a desigualdade social...

É realmente incrível observar o poder da escrita. Mesmo dissertando a respeito de nada, falando sobre um conteúdo de uma incoerência colossal, encontrei um assunto na tentativa de não ter assunto. De um pensamento doentio como o meu, não era de se esperar menos.

E, sendo a loucura o fio condutor da minha escrita, findo com algo sem pé nem cabeça:

Abençoados sejam os miojos do mundo.

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