“Harry Potter, você lutou bravamente... mas permitiu que seus amigos morressem por você no lugar de me enfrentar. Esta noite, encontre-se comigo... e enfrente seu destino”.
É uma sensação desconcertante (quase indescritível, ouso dizer) saber que o final está próximo, especialmente quando ele está com data e hora marcadas. O sentimento de perda e de partida são os resquícios de tudo aquilo que foi assimilado, visitado e preenchido. O receio de presenciar o fim é, afinal, uma característica compreensível visto que milhões de leitores e telespectadores compartilham da mesma apreensão; é possível deixar tudo para trás após 10 anos? Será que uma simples despedida conseguirá suprir todas as aventuras vividas em centenas de páginas e revividas nas telas do cinema? Quem dera ter essas respostas para amenizar o sofrimento dos fiéis seguidores, pois muitos deles hoje, assim como eu, deram seu último adeus a Harry Potter, o menino que sobreviveu.
Ano passado, na minha crítica de Relíquias da Morte.1, disse que o filme havia sido bastante fiel à obra, o que realmente agradou muitas pessoas e esclareceu as razões pelas quais a adaptação do último livro da saga precisou ser dividida em duas partes. Escolha essa que se revelou mais do que sensata, uma vez que a extensão da história exigia uma abordagem mais minuciosa. É por isso que é necessário lembrar: embora sejam duas partes distintas, elas contam a mesma história; consequentemente, aquele que pretende assistir a parte 2 sem antes ter visto a 1 ficará mais aluado do que astronauta girando em órbita.
A chegada de Relíquias da Morte.2 não causou tanta euforia por motivos tolos e simplórios. Ela é a peça fundamental que faltava para completar o quebra-cabeças, o farol que restava para iluminar o fim do túnel. Se na parte 1 tivemos a oportunidade de conhecer o prato principal, aqui temos o prazer de degustá-lo. E fico feliz em dizer que o filme conseguiu desempenhar essa função muito bem. Logo de início, temos um breve vislumbre da última cena da parte 1, em que Voldemort rouba a Varinha das Varinhas do túmulo de Dumbledore. Agora dotado do poder da invencibilidade, o Lorde das Trevas recruta o maior número possível de Comensais da Morte e juntos armam um cerco ao redor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Ainda no perigoso desafio de procurar e destruir Horcruxes, Harry, Rony e Hermione descobrem que um dos nefastos objetos que ocultam parte da alma de Voldemort está escondido em Hogwarts. Assim, o inseparável trio retorna à escola e lá descobre que um grupo de alunos rebeldes, liderados por Neville Logbottom (um dos grandes heróis do filme), formaram uma resistência contra o novo diretor ditador, Severo Snape. Neste ponto, o longa começa a exibir seus momentos tocantes na relação entre vários personagens, destacando merecidamente a professora Minerva McGonagall, o professor Flitwick e Horácio Slughorn, que, unidos, evocam defesas para proteger o castelo enquanto os alunos se preparam para a Batalha Final.
E por falar em guerra, cujo grau de violência é bastante notável neste último episódio, isso me leva a tecer alguns comentários a respeito da direção. Sempre disse que David Yates foi o melhor diretor que já apareceu na franquia de Harry Potter, elevando a série a um patamar glorioso a cada filme sob sua direção. Entretanto, neste derradeiro filme, ele me deixou muito intrigado; se Relíquias da Morte.2 tivesse caído nas mãos de outro diretor, provavelmente haveria muitas cenas a mais de duelos e batalhas, e a questão sentimental seria posta em segundo plano. O que surpreende em Yates, porém, é que ele fez o inverso. Aliás, desde que ele assumiu o controle da franquia a parte mágica se tornou elemento secundário e deu espaço ao sentimento humano de cada personagem.
Yates também se sobressaiu nos efeitos especiais e na trilha sonora. E não é de se admirar, pois, tratando-se de um desfecho épico, isso era mais do que essencial. Os efeitos estão magníficos, os melhores já vistos na série, talvez prejudicados por algumas cenas intensamente escuras, mas arrisco supor que desta vez a equipe técnica corre grandes riscos de receber a tão cobiçada estatueta dourada. A equipe de som também merece enaltecimento; a trilha, que poderia ser exagerada ao extremo se não estivesse sob o domínio de Alexandre Desplat, é triste e melancólica, fazendo uma combinação perfeita com as cenas em que Hogwarts está sendo destruída e tendo um destaque excepcional nas memórias de um determinado personagem.
Em 10 anos, Harry buscou a Pedra Filosofal, enfrentou perigos na Câmara Secreta, ficou cara a cara com o Prisioneiro de Azkaban, foi escolhido pelo Cálice de Fogo, participou das reuniões da Ordem da Fênix, decifrou o Enigma do Príncipe e possuiu cada uma das Relíquias da Morte, sempre tentando obter respostas do porquê ter sobrevivido ao ataque de Lorde Voldemort quando era apenas uma criança, sempre tentando entender por que os dois possuem uma ligação e o que aquilo representaria no instante do confronto decisivo. Relíquias da Morte.2 responde esses questionamentos por meio de lágrimas e muita tristeza. No entanto, erra por não dar uma maior atenção a certos personagens e a momentos tão aguardados pelo público.
Portanto, antes de encerrar, acho justo enfatizar que Harry Potter é uma história que fala sobre amor. O amor de dois pais que deram suas vidas para proteger seu filho, um amor que uma criança mal-tratada pelos tios só conseguiu conhecer quando de fato descobriu sua verdadeira identidade e o lugar ao qual pertencia. Amor que contagiou milhões de fãs e inspirou uma geração inteira de leitores e até mesmo novos escritores. Certa vez, nos primórdios de A Pedra Filosofal, Alvo Dumbledore fez uma citação a respeito da morte. Eu tomo a liberdade para modificar a frase: para uma mente bem estruturada, o final é apenas uma passagem seguinte. Eu poderia, é claro, citar vários superlativos para descrever esse momento de emoção. Contudo, digo somente isso: muito obrigado, Harry Potter. Foi uma grande honra.
"Eu jamais quis que nenhum de vocês morressem por mim".
Trailer:
Excelente texto, da Vinci, de verdade. Harry Potter estará sempre em nossos corações. Algumas pessoas acham banal essa nossa "adoração" por HP, mas elas não entendem o quanto ele fez parte de nossas vidas... quantas noites ficamos acordados lendo suas aventuras, alguns de nós, como eu, lemos mais de dez vezes cada livro... Sempre descobrindo coisas novas e esperando o novo desenrolar de sua história...
ResponderExcluir"Eu poderia, é claro, citar vários superlativos para descrever esse momento de emoção. Contudo, digo somente isso: muito obrigado, Harry Potter. Foi uma grande honra." Léo da Vinci
Faço minhas as suas palavras...
Laryssa Oliveira
harry potter... the boy who live ... come to die !!!(grande lord voldemort)
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