sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Eu Sou Deus


As certezas não são desse mundo. E as poucas que existem são quase sempre negativas”.

Quando se trata de um leitor assíduo, com uma boa bagagem literária no tema suspense e ação, chega um tempo em que o olhar consegue classificar se a narrativa que se desvela diante de si é agradável ou não. Às vezes o livro prende desde o início, enquanto em outras ocasiões o enredo demora um pouco para acelerar seu desenvolvimento. Contudo, se o fim não for satisfatório e não entrar em sintonia com o restante da história, todo o deleite pode ser dissolvido. 

Em Eu Sou Deus, tem-se o exemplo básico de uma boa obra, mas que infelizmente não ultrapassa a linha que uma excelente catarse literária é capaz de oferecer. O livro, escrito por Giorgio Faletti, foi lançado no Brasil pela editora Intrínseca e alcançou a marca de 2 milhões de exemplares vendidos somente na Itália. 

Em uma estratégia que lembra vagamente os livros de Dan Brown, a trama começa com um evento alarmante. Depois há um regresso no tempo, em que um determinado personagem é apresentado, porém sua função apenas fica clara na última metade da leitura e, de início, sua história não causa muita empolgação, até acontecer as primeiras mortes do enredo. 

Com o mistério no ar, a narração retorna à cronologia do presente e o leitor é apresentado aos verdadeiros protagonistas da aventura. Vivien Light é uma detetive da cidade de Nova York, solteira, que quando não pensa nos problemas do trabalho ocupa a mente com os transtornos familiares que precisa enfrentar. Já Russel Wade é o fracasso em pessoa; a ovelha negra de uma milionária família, um ímã que atrai dívidas com frequência e um triste homem que busca redenção. 

Esses adjetivos são fundamentais, pois são expostos de uma forma que familiariza o leitor com os personagens; tornam-se mais verdadeiros e é possível imaginar o drama pelo qual têm de passar. O caminho de ambos se cruza de uma maneira inesperada, tendo uma grandiosa catástrofe como o elo que os une. Logo Vivien e Russel se veem juntos diante de uma perigosa investigação: descobrir quem é o psicopata que está ameaçando toda Nova York e que se autodenomina Deus. 

A narração que Faletti conduz é extremamente coesa e rica de detalhes emotivos e psicológicos. Os diálogos são excepcionais, as relações bíblicas condizem com as características da trama e todo o arco investigativo deixa a centelha da curiosidade cada vez mais animada. No entanto, a surpresa do final não satisfaz toda a ansiedade adquirida ao longo da leitura; talvez por ser imprevisível demais ou até mesmo por se esperar algo melhor e ousado. 

Com Eu Sou Deus, Giorgio Faletti conseguiu demonstrar sua exímia habilidade no estilo narrativo. Personagens bem construídos, uma história interessante e uma coerência exemplar. Todavia, o leitor acostumado com obras de suspense e ação provavelmente não irá se convencer com a solução encontrada no final, lançando a obra no ramal das histórias nem ótimas e nem ruins; apenas admirável. 


As guerras acabam. O ódio é eterno”.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Gravidade


Tem alguém lá embaixo olhando para cima e pensando em você?”.

O espaço sideral, sem sombra de dúvidas, já se provou um cenário profundamente lúdico no âmbito das ficções científicas. É uma relação que desenvolve o imaginário do espectador, como fizeram Avatar e Star Wars, ao passo que também instiga a reflexão a respeito dos complexos mistérios que cercam nosso universo. 

Entretanto, por incrível que pareça, o encanto não se perde sob uma abordagem mais realista. E há de se afirmar que o realismo em Gravidade é demasiadamente abundante. Dirigido e escrito por Afonso Cuarón (de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban), o longa apresenta uma narrativa cujo tema central é a sobrevivência e guarda em si a promessa de um dos melhores filmes de jornada espacial.

A premissa é simples: dois astronautas que se veem vítimas de um acidente e vagam pela órbita terrestre. Contudo, existem mais ingredientes por baixo do recheio e logo o enredo revela sua faceta metafórica. George Clooney vive o veterano Matt Kowalski, o qual se encontra em sua última missão antes da aposentadoria. Diferentemente de Sandra Bullock, que interpreta a novata e inexperiente doutora Ryan Stone. 


A nave em que ambos trabalham é atingida por uma tempestade composta pelos destroços de um satélite. Mas o foco recai na personagem de Bullock, pois o caminho da luta pela vida e a jornada da superação pertencem a ela. Por quase toda a exibição, apenas a atriz aparece em cena, recurso que Cuarón utilizou para fazer o espectador se aproximar e se afeiçoar à Dra. Stone. 

Essa técnica poderia ter feito o filme perder muitos créditos, uma vez que a monotonia ficaria evidente. Porém, mesmo com a Terra em plano de fundo meio que o tempo inteiro, o espetáculo visual dos efeitos especiais são magníficos e estarrecedores, combinando perfeitamente com a proposta realista estabelecida do início ao fim (Destaque para todas as cenas da tempestade, cada qual com sua devida importância).


Algo que também favorece a estética da película é o plano-sequência, ferramenta que Afonso sabe manusear muito bem e que aqui estendeu por minutos que pareciam não acabar. A trilha sonora, criada por Steven Price, transmite exatamente as sensações que são perceptíveis nas feições da astronauta: agonia, solidão e desespero, resultando em uma sincronia formidável. 

Gravidade mostra que, ainda que um ser humano esteja diante de um cenário em que tudo pode desfavorecê-lo, é possível encontrar uma oportunidade de renascer; a posição fetal de Bullock após concluir uma árdua tarefa é prova disso. E embora Gravidade não explore a questão da fantasia e do imaginário no espaço, pelo menos consegue – e com maestria – enaltecer a curiosidade de tentar entender o infinito universo que reside sobre nós.



Trailer:

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A Lição do Herói



O clamor, embora muitas vezes seja quase inaudível, soa necessário desde sua plenitude à raiz de sua essência. Alguns já perderam a esperança e caíram na falsa e ilusória teoria de que a melhor opção é se adequar ao realismo torpe e nefasto ao qual somos submetidos e que, mesmo que involuntariamente, contribuímos para que fique pior. 

Em um mundo atroz, perverso e tétrico, a escolha mais propícia é não perder a fé. Depositar a confiança em uma figura cujas características sejam nobres, que seja um defensor e responsável por natureza, é acreditar que alguém ainda pode fazer a diferença nessa infeliz realidade. Pessoas precisam perseverar na esperança, sem deixá-la perecer. Pessoas necessitam continuar acreditando, por mais que seja árduo demais. As pessoas precisam de um herói. 



"Todo mundo adora um herói. As pessoas fazem filas para vê-los, para gritar seus nomes. E daqui a uns anos eles contarão como ficaram na chuva durante horas só para ver de relance aquele que os ensinou a continuar acreditando no bem. 

Eu acredito que exista um herói em todos nós. Que nos mantém honestos, que nos dá forças, nos enobrece. E que no fim nos permite morrer com orgulho. Ainda que, às vezes, tenhamos que ser firmes e desistir daquilo que mais queremos. Até de nossos sonhos".