sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos


Tudo que você ouviu sobre monstros, pesadelos, lendas sussurradas ao redor de uma fogueira... Todas as histórias são verdadeiras”. 

Quando assisti a Jogos Vorazes, tive receio do conteúdo que seria exibido diante dos meus olhos; por um momento acreditei que o filme seria deveras semelhante à saga Crepúsculo, uma vez que, para conquistar a geração de jovens atuais, o apelo ao universo fantástico acaba ganhando novas feições e características – por várias vezes – duvidosas e lastimáveis. Entretanto, me surpreendi ao constatar que o meu pré-conceito estava tremendamente equivocado. 

Embora a sensação não tenha sido inteiramente similar, ao final de Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos pude sentir um pouco da mesma experiência que tive ao apreciar a versão cinematográfica da obra de Suzanne Collins e, ao menos, restou o alívio de que também supera a saga “crepuscular”, ainda que precise melhorar em alguns aspectos. 


No que diz respeito à heroína, o direcionamento não poderia ser diferente: Clary Fray (Lily Collins) é uma garota de 16 anos que começa a ver e a fazer símbolos incompreensíveis para ela e, aparentemente, para as outras pessoas também. Certa noite, ela e seu melhor amigo, Simon, entram em um clube, onde a menina presencia um assassinato. O problema é que Clary foi a única que conseguiu ver os responsáveis pelo crime. 

Com a curiosidade latejando em suas veias, ela segue uma das pessoas invisíveis. O personagem em questão é Jace (Jamie Campbell Bower), o qual percebe de imediato que Clary não é uma humana normal. O enredo ganha tonalidades mais obscuras com o desaparecimento da mãe de Clary e com a descoberta de que, assim como Jace, ela é uma Caçadora das Sombras; a mistura de anjo com humanos, alguém cuja missão é derrotar demônios. Em seguida, a garota vai conhecendo novos aliados, a existência do Cálice Mortal (o objeto mais cobiçado da história), a verdadeira identidade de sua mãe, e pouco a pouco passa a ter um vislumbre do seu grandioso destino.


Inspirado no romance de Cassandra Clare e dirigido por Harald Zwart (responsável pelo remake de Karate Kid), o longa não deixa a desejar nos efeitos visuais. As cenas de ação são diversas e a atuação que mais se destaca é a da protagonista. Contudo, muitas coisas são explicadas de maneira veloz, preocupando-se mais com as lutas do que com a mitologia proposta. E, com esta temática, a qual contém em si um teor sombrio e bizarro, seria sensato abrir um tempo maior para explicações. Qual é a função de um Instrumento Mortal, afinal? Quantos existem? 

Em um quadro geral, Os Instrumentos Mortais possui os elementos que prendem a atenção de um jovem desta geração; há vampiros e lobisomens, mas também há demônios, alguns bem assustadores, algo mais complexo e preocupante. E mesmo com um clima de trevas, restam pequenos minutos de romance com uma tonalidade juvenil. A adaptação cinematográfica de Cidade dos Ossos, primeiro volume da série de Cassandra Clare, tem potencial e um esforço admirável, porém, ainda precisa fazer por merecer o prestígio de uma respeitosa franquia.


Trailer:

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Uma Cilada Para Roger Rabbit


Desenhos devem fazer as pessoas rirem. Uma risada pode ser bastante poderosa. Porque às vezes, na vida, é a única arma que nós temos”. 

É quase mágico e utópico quando paramos para refletir que, apesar da passagem do tempo e das mudanças sociais, os desenhos ainda permanecem encantando e entretendo gerações. A possibilidade de se divertir com algo surreal e de viajar por entre um mundo impossível de existir é uma experiência que as crianças, inclusive os saudosos adultos, fazem questão de descrever. 

Deve ser por isso que Uma Cilada Para Roger Rabbit é um filme tão surpreendente. Lançado em 1988, o longa foi o pioneiro na união do live-action com a animação tradicional; não é difícil imaginar o estarrecimento das crianças que cresceram na década 1990 ao vislumbrar pessoas reais interagindo com desenhos animados em uma história inteligente, lapidada com suspense e humor. 


Baseado no romance de Gary K. Wolf, publicado em 1981, o enredo nos transporta para Hollywood no final da década de 1940. O detetive particular Eddie Valiant (Bob Hoskins) é contratado por R.K. Marron, dono da empresa Marron Desenhos, para averiguar com quem a esposa de Roger Rabbit, o atrapalhado coelho, o está traindo. Logo se descobre que Marvin Acme, proprietário da Desenholândia, a terra de todos os desenhos, está intimamente envolvido com a senhora Rabbit. 

A trama se intensifica com a morte de Acme e a culpa do homicídio recai sobre o suspeito mais óbvio: Roger. Desesperado, o coelho pede a ajuda de Eddie, uma vez que no passado a especialidade do detetive era ajudar desenhos. É por meio de muitas desavenças, puxões de orelhas e confusão que Eddie vai descobrindo que o esquema por trás da morte de Acme é muito mais sorrateiro e misterioso, capaz até de extinguir a Desenholândia. 


Vencedor de 4 Oscar, incluindo para Efeitos Visuais, o filme foi dirigido por Robert Zemeckis (diretor da trilogia De Volta Para o Futuro) e produzido por Steven Spielberg. Além do longa ter sido inovador para a época nos padrões técnicos, também conseguiu uma proeza que muitas pessoas duvidaram: firmar um acordo com a Warner Bros. e Disney, fato que permitiu a aparição de seus personagens nas mesmas cenas (É provável que tenha sido aqui que o Mickey e o Pernalonga apareceram juntos pela primeira e única vez). 


No entanto, é importante frisar que não é um roteiro voltado exclusivamente para o público infantil; violência, tiroteio, morte, alusões a sexo e adultério estão presentes na obra, elementos que não denigrem a qualidade da película, pois a proposta é clara desde o início. É também necessário lembrar do sádico juiz Doom, interpretado por Christopher Lloyd, criador da substância que mata desenhos em questão de segundos: o Caldo. 

Uma versão comemorativa foi lançada recentemente para celebrar os 25 anos deste clássico que certamente marcou a infância de uma geração. Uma Cilada Para Roger Rabbit não mostrou apenas desenhos sob uma perspectiva mais adulta; atiçou a imaginação das crianças que sempre quiseram acreditar na existência de um mundo que antes parecia inalcançável. É claro que, com a tecnologia da atualidade, tudo é possível. Mas a emoção de ver Roger Rabbit e Eddie juntos em cena, em uma louca aventura, é uma nostalgia que a modernidade jamais poderá apagar.

Trailer dos 25 anos:

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Círculo de Fogo


Nós sempre pensamos que a vida alienígena viria das estrelas. Mas veio das profundezas do mar, por um portal entre dimensões no Oceano Pacífico. Algo lá fora havia nos descoberto. Eles contavam que nós, humanos, iríamos nos esconder, desistir, falhar. Eles nunca consideraram nossa capacidade de resistir, de suportar... De estar à altura do desafio”. 

É preciso mais do que coragem para apostar em uma ficção científica. Além da ousadia, estudos e criatividade – elementos cruciais no processo da criação ficcional – é necessário acrescentar mais um ingrediente à fórmula. Sem ele, talvez todo o projeto perca o seu sentido. É preciso que o criador acredite em sua criatura. 

E quando se trata em fé por ficções científicas na esfera cinematográfica do século XXI, o nome de Guillhermo Del Toro é um dos mais lembrados. Sendo produtor de alguns filmes que fogem da realidade, como Kung Fu Panda 2 e o Gato de Botas, ambos resultados de sua parceria com a DreamWorks, o cineasta mexicano soma ao seu currículo a direção dos filmes O Labirinto do Fauno e os dois Hellboy, obras cujo conteúdo se assemelham no quesito imaginário. 

Em Círculo de Fogo, sua película mais recente, Del Toro se debruça com mais afinco no conceito de irrealismo, sem qualquer tipo de receio e tampouco medo de extrapolar os limites da lógica, e entrega uma nostálgica e ótima homenagem ao espectador que cresceu assistindo os clássicos japoneses exibidos nas décadas de 1980 e 1990. 


No futuro, a Terra começa a ser atacada por monstros que surgiram das profundezas do Oceano Pacífico. Os Kaiju, as bestas de proporções descomunais (uma mistura de Godzilla com os gigantes do jogo Shadow of the Colossus), atacam sem motivo aparente, devastando tudo por onde passam, e nada se sabe dos seus objetivos e muito menos se pretendem cessar a destruição. 

Entretanto, os humanos desenvolveram um método para combater as criaturas. Construíram robôs gigantes, os quais são manipulados por dois pilotos, cada qual responsável por controlar um hemisfério da faceta robótica. A esperança reside em um plano insano, que só pode ser realizado com a ajuda do piloto Raleigh (Charlie Hunnam) e da treinadora Mako (Rinko Kikuchi). Os dois têm suas respectivas razões para aceitar a missão e encontram compatibilidade por meio de experiências traumáticas do passado. 

 

A prova de que Del Toro se divertiu na construção do filme está nas cenas de luta, uma mais impactante que a outra. E o auxílio do extraordinário 3D, unido com a forte mistura de cores, deixa o cenário mais claro e psicodélico. A trilha sonora é empolgante e aqui o alívio cômico se destaca por ter uma função bastante inesperada e satisfatória, embora exagerada em certos trechos. Mas tudo é grande e exagerado em Círculo de Fogo, e não seria surpresa se Del Toro tiver feito isso intencionalmente, uma vez que o propósito principal é retomar os consagrados programas japoneses em que os enormes monstros destruíam os prédios de isopor. 


Infelizmente, o roteiro deixa um pouco a desejar em relação ao desenvolvimento do protagonista (a narração em off que inicia o filme de repente some e não volta mais) e talvez um pouco mais de drama enaltecesse o brilho do enredo. Porém, Círculo de Fogo não veio para se preocupar com detalhes literários, veio para entreter. E com um diretor cuja mente parece estar sempre disposta a acreditar na fantasia, o fabuloso e encantador resultado não poderia ter sido diferente.


"Hoje, no limite da nossa esperança... No fim do nosso tempo... Nós escolhemos acreditar uns nos outros. Hoje enfrentaremos os monstros que estão a nossa porta! Hoje vamos cancelar o apocalipse!".

Trailer:

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sina


Para você que valoriza o afeto familiar,

Para você que tem coragem de sonhar,

Para você que acredita no destino e no amor,

Para você que não se deixa levar pelo rancor.

Para você que já gostou de alguém,

Para você que só quer ver o bem,

Para você que gosta de poesia,

Para você que batalha dia após dia.

Para você que não tem vergonha de sorrir,

Para você que odeia fingir,

Para você que adora ler,

Para você que ama viver.



Letra:


Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome pra poder falar de amor

Minha princesa, art-nouveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz

A luz de um grande prazer é irremediável neon

Quando o grito do prazer açoitar o ar, reveillon

O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer caetanear o que há de bom

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A Viagem



Nossa vida não é nossa de fato. Do útero ao túmulo, temos ligações com os outros, no passado e presente. E por cada crime e cada bondade, geramos nosso futuro”.

A História é viva e, portanto, está em constante processo de desenvolvimento. O curioso e talvez, de certa forma, impressionante, é que ao fazer uma análise histórica de determinados fatos ocorridos na humanidade, é possível ver que há alguns personagens, de épocas e classes sociais distintas, que lutaram e acreditaram em ideais semelhantes.

Não sei se existe uma teoria histórica para isso, mas às vezes fica fácil de ver que toda a linha do tempo está interligada quando se observa os erros passados refletindo no presente e ecoando no futuro. Esse efeito dominó, que perpassa o interior das eras, é um dos temas centrais do filme A Viagem, baseado no romance de David Mitchell.


Após uma exibição de quase 3 horas, é realmente difícil não refletir a respeito da ideologia proposta. E as peculiaridades vão desde o enredo à direção, uma vez que foi um filme comandado pelos irmãos Wachowski (criadores de Matrix) e por Tom Tykwer (diretor de Corra, Lola, Corra). Ainda que seja um filme projetado por três visões, o resultado final causa uma forte e boa impressão na memória devido ao equilíbrio delicadamente explorado.

O roteiro, por si só, é digno de mérito. Procurando ser fiel à obra, o longa apresenta ao espectador seis núcleos, os quais se passam em anos totalmente diferentes. A proeza reside em fazer isso aleatoriamente sem prejudicar o entendimento, pois todas as histórias estão conectadas de alguma maneira. E por isso uma atenção redobrada é essencial. Começamos no século XIX, acompanhando a viagem de um advogado que almeja voltar para casa ao passo que inicia uma amizade com um escravo.


Em seguida, há o primeiro salto temporal: a edição nos leva para a década 1930, na qual conhecemos um jovem deserdado que sonha em se tornar um compositor. Sendo ajudante de um grande músico, o rapaz consegue compor o Sexteto Atlas das Nuvens (Cloud Atlas, título original do filme e da obra). Na década de 1970, vemos uma jornalista tentando desvendar um misterioso assassinato. 2012 é o núcleo da comédia, em que um grupo de idosos tenta escapar de um asilo. Em 2144, um clone transforma-se no ícone de uma resistência. E, por fim, somos apresentados ao que sobrou da civilização em um futuro pós-apocalíptico.

E se o roteiro e direção merecem suas congratulações, o mesmo vale para a equipe de maquiagem e efeitos visuais. Os atores, também ótimos, foram transfigurados e algumas vezes nem é possível identificá-los em meio a tantas transformações; alguns aparecem em todas as histórias e inclusive há casos de troca de sexo. Destaque especial para Tom Hanks, Halle Berry, Jim Sturgess, Donna Bae e Hugo Weaving.


Acima de tudo, A Viagem defende a liberdade, o amor e a verdade como um direito de todos, independente da hierarquia social. Para que essa ideia seja sustentada até o fim, o enredo se apoia em reflexões filosóficas, sociais e cristãs, elementos que criam uma atmosfera mais lúdica ao filme. Muitos personagens, de épocas diferenciadas, deixaram suas marcas na História, conectando vidas e emoções. E se houver uma teoria para isso, espero que resultados positivos ecoem nas gerações futuras. Pelo menos, não custa nada acreditar.


"Acredito que há outro mundo esperando por nós. Um mundo melhor. E eu estarei esperando por você lá".



Trailer: