sábado, 24 de setembro de 2011

A Três



Eu sei que não é novidade, mas não custa nada lembrar: poesia não é a minha praia. Foi-se o tempo em que eu me arriscava na onda dos versos poéticos e deixava a maresia da rima me levar. Na verdade, as coisas que eu escrevia eram tão bizarras e patéticas que acho uma ousadia à literatura classificá-las como poesias. Agradeço a Deus por ter me guiado por um novo caminho: definitivamente, a prosa é o meu lugar.

Mas isso também não significa que eu abomine a arte de poetizar. Muito pelo contrário, admiro os artistas que possuem o talento de construir textos poéticos e, por sorte, tenho o privilégio de conhecer alguns. Mês passado, meus amigos poetas Pablo Roberto e Charles Marques (O Café) lançaram-me o desafio de escrever em parceria com eles. Na ocasião, senti-me compelido a participar do ato e acabei aceitando a oferta.

Venho aqui humildemente agradecê-los pela oportunidade, pois pude relembrar qual é a sensação de redigir um poema, ainda que tenha perdido a prática. Como forma de agradecimento, os tirarei do anonimato e publicarei a tal poesia. E caso esteja muito ruim, com certeza a culpa foi minha.

Eu posso ter desistido de escrever poesias, mas pelo jeito ela ainda existe dentro de mim.


A Três

Eu, você, nós, sozinhos
Três patetas perdidos em um ninho
Rabisco e as letras
Me levam a caminhos que nunca passeei

O mar, o lar, o ar
Essas essencialidades imperceptíveis, imprescindíveis.
Versos, lasanhas, chocolate de amargar.
Trivialidades difíceis de se juntar
Junto e faço delas o meu arsenal
Meu punhado de existência,
Meu samba, meu verso,
Meu eu, meu seu.
Meus nós...

Esse meu, que é tão seu quanto nosso.
Nos fala, nos diz a que veio e tão logo se vai.
E nesse curto momento que revisito fotos antigas.
Percebo que tempos bons não voltam mais,
Roubando nossa fé e a velha paz.

Enfim me debruço emudecido
E ouço o som,
Ele me basta...
Nos basta. Basta de clamares, o tempo não volta.
Voltemos ao princípio para ver como tudo terminou.

sábado, 17 de setembro de 2011

Forrest Gump: O Contador de Histórias

"Minha mãe dizia que a vida é como uma caixa de bombons: você nunca sabe o que vai encontrar".


A arte de contar histórias é uma habilidade adquirida por meio de muito treino, ou, é claro, se quem a conta tiver vivenciado cada detalhe. Para alguns, não importa se o conteúdo relatado seja verdade ou mentira, basta apenas que o modo com que a narrativa é destrinchada seja natural, sincera, simples e apaixonante. É esse estilo, essa nobre forma de se contar uma história, que fica marcada não somente na lembrança de quem a viveu, mas sobretudo na daqueles que escutaram com atenção e respeito.

Como já é de conhecimento geral (pelo menos deveria ser), histórias marcantes têm o direito de serem revisitadas. Não no intuito de evitar um possível esquecimento, e sim para relembrar os aspectos que as tornam tão memoráveis. Forrest Gump: O Contador de Histórias, possui os ingredientes certos para rebuscar na nossa mente os motivos pelos quais não deve ser esquecido.

Forrest Gump (Tom Hanks) é um rapaz simples que cresceu em uma pequena cidade do Alabama. Na infância, tinha problemas ortopédicos e foi criado de acordo com os conceitos que sua mãe tinha do mundo, o que talvez seja a razão para o personagem ser tão ingênuo. Contudo, atrevo-me a dizer que a inocência de Gump é o fator que mais encanta e surpreende o espectador, pois ele atravessa todas as etapas da "jornada do herói" sem perdê-la em nenhum momento. Esta forma infantil de enxergar as coisas dá à narrativa uma comicidade irresistível que permeia quase todo o filme. Ainda criança, Forrest descobre o valor da amizade ao lado de Jenny, e graças a ela aprendeu a correr e a amar.

O fato de correr como o vento garantiu a Forrest uma vaga no time de futebol. De maneira ingênua (é importante não esquecer disso), ele tornou-se um atleta astro durante os anos de faculdade. Após se formar, alistou-se no exército e foi recrutado para servir na Guerra do Vietnã. Lá ele conhece Bubba, um pescador de camarão, e o Tenente Dan Taylor, futuro sócio. Sem entrar muito em detalhes, enquanto as oportunidades surgem para Forrest progredir na vida, ele nunca tirou da cabeça sua amada Jenny. Como é exposto no decorrer da exibição, Jenny não tem a mesma sorte, embarcando no movimento hippie da década de 60, nos prazeres carnais, e conhecendo as novas maneiras de "expandir a mente". E o gentil Forrest, dotado da capacidade de compaixão, ainda vê em Jenny a garotinha pura de outrora, nas mais diversas situações embaraçosas.

O filme estreou nos cinemas em 1994, ganhou 6 Orcars (incluindo o de Melhor Filme e Melhor Ator para Tom Hanks) e foi dirigido por Robert Zemeckis (Diretor dos clássicos Uma Cilada para Roger Rabbit e da trilogia De Volta para o Futuro). Além da simplicidade e da beleza com as quais Zemeckis dirigiu o longa, o roteiro de Eric Roth também merece seu destaque; ainda que o foco do enredo seja a vida de Forrest e sua paixão inesgotável por Jenny, por trás de tudo isso há os acontecimentos marcantes da história dos Estados Unidos, de modo que Forrest presencia os principais fatos do século XX que ocorreram no seu país e os relata como se fossem coisas corriqueiras. Isso sem mencionar as maneiras hilárias com as quais ele influenciou determinadas pessoas...

Importante ressaltar os efeitos especiais, que na época foram revolucionários. Afinal, deram a Forrest a possibilidade de se encontrar com pessoas que já estavam mortas. Como, por exemplo, na foto abaixo, em que Gump vai a um programa e conhece John Lennon, encontro este que inspirou o músico a escrever uma de suas canções mais conhecidas: Imagine. Graças também à computação gráfica, Forrest encontrou-se com os presidentes John Kennedy e Richard Nixon.

De um jogador de futebol, Forrest passou a ser um herói americano, capitão de um barco, campeão nacional de ping-pong e dono de empresas bem sucedidas, nunca abandonando suas maiores características: a inocência e a bondade, mesmo diante da desigualdade, do abandono e da morte. Um enredo narrado de forma alegre, frágil e engraçada, com seus momentos lindos e tocantes, dignos de serem recordados por muitos anos. Forrest Gump: O Contador de Histórias é um filme que mistura ficção com verdade e que não tem o objetivo de mudar a atitude das pessoas, porém, para quem escuta e assiste, encanta e inspira com uma tremenda facilidade. Como toda boa história deve fazer.



"Eu corria para chegar aonde estava indo. Nunca achei que isto ia me levar a algum lugar".


Trailer (sem legenda):

sábado, 10 de setembro de 2011

How Far We've Come




Quando eu era mais novo, acreditava que o fim do mundo iria se consumar por meio de algum desastre natural: um meteoro super gigante colidindo com a Terra, dizimando toda a raça humana; uma tsunami de largura incalculável que iria varrer tudo por onde passasse... Obviamente, foi ficando claro que tais pensamentos tratavam-se do fruto de uma mente fértil. Não me passava pela cabeça a ideia de que existissem teorias para o apocalipse com fundamentações religiosas, científicas e proféticas.

Francamente, o lado negativo de crescer e amadurecer é perceber que o mundo é absurdamente mais cruel do que sua imaginação poderia supor. Quando você vivencia, mesmo que indiretamente, cenas de violência e destruição, a realidade ganha mais destaque e transforma a teoria em algo pífio. Todos os dias, SEM EXCEÇÃO, somos testemunhas das brutalidades e atrocidades que o Homem é capaz de executar.

Então por que esperar que uma profecia apocalíptica seja concretizada ou uma teoria científica seja confirmada? Basta apenas aguardar pelo dia do Julgamento Final, pois está mais do que evidente que iremos nos destruir pouco a pouco. E quando o momento da verdade chegar, os responsáveis irão sentir o peso da culpa e pagarão pelos seus atos; não se pode fugir da justiça divina.

How Far We've Come é uma canção da banda norte-americana Matchbox Twenty, a qual mostra um sujeito acordando no dia do fim do mundo e contando como o restante da humanidade está reagindo diante disso. O videoclipe foi muito bem dirigido e utiliza imagens de fatos marcantes da nossa história, grandes erros e prováveis acertos, vilões e heróis (Até Pelé, dito Rei do Futebol, aparece), lançando a reflexão do que mais será feito de gritante e torpe, do quão longe ainda podemos chegar.

Perante tudo isso, sinto falta daquela época em que imaginava o apocalipse de uma forma cinematográfica e, digamos, inocente. Pelo menos ali a minha mente era preenchida com a pureza do pensamento infantil, algo que sempre deveria ser preservado, e jamais perdido.


Letra:

How Far We've Come

I'm wakin' up at the start of the end of the world
But it's feeling just like every other morning before
Now I wonder what my life is going to mean if it's gone
The cars are moving like a half mile an hour and I
Started staring at the passengers waving goodbye
Can you tell me what was ever really special about me all this time

But I believe the world is burning to the ground
Oh well I guess we're gonna find out
Let's see how far we've come
Let's see how far we've come
Well I believe it all is coming to an end
Oh well I guess we're gonna pretend
Let's see how far we've come
Let's see how far we've come

I think it turned 10 o'clock but I don't really know
And I can't remember caring for an hour or so
Started crying and I couldn't stop myself
I started running but there's no where to run to
I sat down on the street, took a look at myself
Said where you going man you know the world is headed for hell
Say your goodbyes if you got someone you can… say goodbye to.

But I believe the world is burning to the ground
Oh well I guess we're gonna find out
Let's see how far we've come
Let's see how far we've come
Well I believe it all is coming to an end
Oh well I guess we're gonna pretend
Let's see how far we've come
Let's see how far we've come

It's gone, gone baby it's all gone
There's no one on the corner and there's no one at home
But it was cool, cool, it was just all cool
Now it's over for me and it's over for you
It's gone, gone baby it's all gone
There's no one on the corner and there's no one at home
But it was cool, cool, it was just all cool
Now it's over for me and it's o-ver for you

But I believe the world is burning to the ground
Oh well I guess we're gonna find out
Let's see how far we've come
Let's see how far we've come
Well I believe it all is coming to an end
Oh well I guess we're gonna pretend
Let's see how far we've come
Let's see how far we've come
Let's see how far we've come
Let's see how far we've come

Tradução:

Quão Longe Chegamos

Estou acordando no início do fim do mundo
Mas está parecendo com as mesmas manhãs de antes
Agora imagino o que minha vida vai significar se ela acabar
Os carros se movem a meia milha por hora e eu
Comecei a observar os passageiros dando adeus
Você pode me dizer o que foi realmente especial sobre mim todo esse tempo?

Mas eu acredito que o mundo está pegando fogo
Bem, eu acho que nós vamos descobrir
Vamos ver até onde chegamos
Vamos ver até onde chegamos
Bem eu acredito que tudo isso está chegando ao fim
Bem, eu acho que nós vamos fingir
Vamos ver até onde chegamos
Vamos ver até onde chegamos

Eu acho que deu 10 horas mas eu realmente não sei
E eu não lembro de me importar com isso por uma hora ou mais
Comecei a chorar e não consegui parar
Comecei a correr mas não tinha para onde ir
Sentei na rua, olhei pra mim mesmo
Disse - "pra onde você está indo cara, você sabe que este mundo está perdido"
Diga adeus se você tiver alguém... pra quem você possa dizer adeus.

Mas eu acredito que o mundo está pegando fogo
Bem, eu acho que nós vamos descobrir
Vamos ver até onde chegamos
Vamos ver até onde chegamos
Bem eu acredito que tudo isso está chegando ao fim
Bem, eu acho que nós vamos fingir
Vamos ver até onde chegamos
Vamos ver até onde chegamos

Acabou, acabou, querida, tudo está acabado
Não tem ninguém na esquina e não tem ninguém em casa
Mas foi bom, bom, foi tudo muito bom
Agora é o fim pra mim e é o fim pra você
Acabou, acabou, querida, tudo está acabado
Não tem ninguém na esquina e não tem ninguém em casa
Mas foi bom, bom, foi tudo muito bom
Agora é o fim pra mim e é o fim pra você

Mas eu acredito que o mundo está pegando fogo
Bem, eu acho que nós vamos descobrir
Vamos ver até onde chegamos
Vamos ver até onde chegamos
Bem eu acredito que tudo isso está chegando ao fim
Bem, eu acho que nós vamos fingir
Vamos ver até onde chegamos
Vamos ver até onde chegamos
Vamos ver até onde chegamos
Vamos ver até onde chegamos

sábado, 3 de setembro de 2011

O Homem do Futuro


"Eu vim do futuro. E eu tenho como provar".


A viagem no tempo sempre foi um dos temas favoritos das ficções científicas. O tempo por si só já é um assunto complexo e profundo de se debater, com suas teorias paradoxais e realidades paralelas, imagine então se pararmos para refletir no tamanho das consequências que podem ser causadas quando o espaço temporal é violado. O tempo é, portanto, um objeto de deslumbre tão fascinante quanto delicado, tendo que ser trabalhado com criatividade, inteligência e organização; principalmente na área cinematográfica, para que o roteiro não fique com buracos negros visíveis e com a incoerência totalmente exposta.

Um filme cujo tema central seja o amor, por exemplo, mas que usa a viagem temporal como recurso secundário, precisa ser uma película bem estruturada. Isso pode ser visto em Efeito Borboleta, longa que surpreende ao mostrar a probabilidade de várias realidades alternativas, ou até mesmo em Déjá Vu, em que um detetive regressa ao passado para impedir um atentado terrorista e ainda salvar a mulher pela qual se apaixonou. O amor é capaz de mover montanhas e cruzar os mares, embora, não somente nestes casos como também no atual O Homem do Futuro, seja capaz de fazer o mocinho quebrar a barreira do tempo e espaço para ter a segunda chance de reconquistar a sua amada.

Parece que o diretor e roteirista Claudio Torres (responsável por Redentor e A Mulher Invisível) passou várias horas assistindo De Volta para o Futuro para conseguir criar um enredo que saciasse a sua fixação pelo tema. E como se já não fosse difícil encaixar essa ideia nos parâmetros do cinema brasileiro, o diretor uniu gêneros distintos e precisou transitar entre eles sem causar fadiga ao público. Para os preconceituosos, essa fórmula não funcionaria de maneira alguma no cinema nacional de antigamente. Bom, Torres nos mostra que os tempos agora são outros e está na hora de enxergar o que está à nossa frente.


Zero (Wagner Moura) é um cientista arrogante, frio, solitário e sem filhos. Ele está trabalhando no projeto de criação de uma nova fonte de energia e, antes de ser demitido, entra em um acelerador de partículas e é sugado por um buraco negro. Acidentalmente, Zero torna-se o primeiro viajante do tempo e retorna ao passado exatamente no dia 22 de novembro de 1991, o pior momento da sua vida. Naquele dia, há vinte anos, ele estava sendo humilhado diante de toda universidade pela pessoa que mais amava, Helena (Alinne Morais).

Zero logo vê uma oportunidade única no meio de tudo aquilo: convencer o seu "eu" mais novo a não ser iludido pelo canto da sereia, evitar uma humilhação insuperável, virar o jogo sobre Helena e assim conseguir ficar com ela. Mas quando o assunto é brincar com o tempo, modificar o passado se transforma em algo mais perigoso que cutucar a onça com vara curta. Após alterar o curso dos acontecimentos, Zero volta ao presente e sente o peso dos resultados que são obtidos por mudar as coisas, percebendo que a troca de um simples evento pode mudar definitivamente o rumo de uma história.

Wagner Moura demonstra que consegue adaptar sua interpretação a cada momento que o enredo troca de cenário e de gênero. Ele cria três versões de Zero, cada qual com uma característica em comum, mas nem por isso totalmente semelhantes. Sua performance é enaltecida graças aos companheiros de cena Gabriel Braga Nunes, Maria Luisa Mendonça e Fernando Ceylão, revelando o intenso entrosamento entre o elenco. E o par romântico também não deixa a desejar, como fica explícito na cena em que os dois sobem ao palco para cantar "Tempo Perdido" do Legião Urbana.

Claudio Torres realizou a proeza de fazer com que O Homem do Futuro não decepcionasse nos quesitos romance, ficção científica e comédia. Talvez tenha faltado um pouco mais de emoção ao explicar a moral da história, porém, ainda assim, para um longa brasileiro, O Homem do Futuro consegue inovar em termos técnicos, os quais no Brasil permanecem sendo recursos pouco explorados. É por essas e outras que continuo acreditando no cinema nacional; é graças a películas como esta que uma nova luz acende e a nossa forma de fazer filmes se envereda por um novo caminho. E se a qualidade continuar nesse nível, não será preciso viajar no tempo para ver o que o futuro nos reserva, pois, igual ao amor, ele chega de maneira tão rápida que às vezes nem dá para notar.


"A vida precisa ter problemas".


Trailer: